Começou com uma leve brisa, dessas que nos
dão um arrepio e um tímido aconchego. Depois, um furacão de proporções
ameaçadoras, atingiu em cheio esse momento. Momentos terríveis até, mas, que o
arrependimento não ousa á manipular.
Quando Waldir
chegou em casa, foi aquela sensação de estar perto de um ser magnífico, não
tanto pela sua beleza, que não deixava barato á qualquer galã de revista
elegendo os homens mais perfeitos da face da Terra. Mas sim, pela sua
singeleza, Waldir era um homem que eu jamais tivesse conhecido ou ouvido falar,
além da beleza, era educado, cortês, comunicativo e interessante. Era o
terceiro namorado que minha mãe apresentava-me, os outros, ou eram chatos
metidos á intelectuais, ou cafajestes que só queriam tirar uma lasca e sair
fora.
Minha mãe, no
auge dos seus 37 anos, ainda se mantinha com um corpo e saúde impecáveis. E eu,
nos meus 18, acabara de sair de um lance com uma garota, no geral iria fazer 3
meses. Bom, como eu falava, Waldir chegou sem muita cerimônia e me deu um
abraço forte e apertado, disse que estava com muita vontade de me conhecer,
pois minha mãe sempre comentava sobre mim á ele. Antes disso, pude senti sua
barba ainda por nascer roçando na minha face, o que me deu um súbito êxtase, porém,
fingi indiferença e sorri amarelo, prática quando se conhece pela primeira vez
uma pessoa.
Waldir era
desses caras que se admira e gosta logo de cara. Simpático, mostrava-se sempre
sorridente á qualquer bobagem que eu falava, e minha mãe gostava da nossa
relação estar indo muito bem. E em seguida me perguntou o que eu achava dele,
eu respondi querendo não falar, contendo as palavras. “É, ele um cara legal,
tomara que dure com você”. Enfim, acho que ela queria ouvir mais do que isso,
mas se satisfez vendo á nossa afinidade na conversa em sala.
As semanas
passaram-se, e Waldir mostrava-se cada vez mais íntimo, tanto da minha mãe, e
estranhamente á mim. Um dia, fomos á fazenda dos seus avós maternos, enquanto
minha mãe ajudava na cozinha e conversava com seus parentes, ele me convidou
com um sorriso e semblante amigável (como sempre, de um astro que inexiste
nessa atmosfera), para um passeio no rio, que ficava ali por perto. Eu, sem
titubear ou possuir qualquer chance de raciocínio, aceitei o convite. Mas ia,
com o coração latente, quando uma máquina á vapor está á ponto de ação, ficar á
sós era pra mim estar em união com Deus, de qualquer ritual, qualquer tribo,
estar numa cerimônia de sacrifício de mim mesmo.
Ele.
Continuava falante (como sempre), eu, ás vezes só concordava (como sempre).
Disfarçava estar em uma completa atenção junto á ele, mas, meus pensamentos iam
dos mais sublimes, até o complexo pânico. Não sei de onde, mas era pânico. De
repente, ele falou:
- O que
aconteceu Pedro? Está tão calado.
Eu respondi
que era nada, besteiras minhas. Ele continuava com o interrogatório, perguntava
que “besteiras” eram essas. E eu, resistindo, respondi que era nada. Finalmente
ele cedeu, e começou com outro tipo de assunto, pra ver se quebrava o gelo,
principalmente o meu gelo, meu anestesiamento que me acompanha pela vida toda.
- Sabe Pedro,
desde o dia que eu me apaixonei por sua mãe, a vida só tem me trazido
felicidades. Consegui um emprego novo, terminei a minha faculdade, e já penso
comprar um carro daqui a dois meses... E conheci você que é um garoto muito
especial. Além de ser um bom filho.
Gosto muito de você Pedro, e lhe admiro muito...
Ao falar
isso, ele pôs a mão levemente na minha perna esquerda, pude sentir um forte
calor nela. Enquanto ele olhava ao horizonte, meus olhos e pensamentos fixaram
em sua mão grande, majestosa e voraz, e nas últimas palavras que pronunciou,
“GOSTO MUITO DE VOCÊ PEDRO”, estavam como ecos na minha mente, martelando
insistentemente. Os meus desejos se sobressaltaram de uma vez, quentes,
singelos e intensos. Tentei fazer força para controlá-los, mas já era tarde
demais, eu estava completamente mergulhado no mar de doces e perigosos sonhos.
Na volta pra
casa, o mais perturbador ainda, no carro iam conversando e sorrindo alegremente
minha mãe e ele, meu anjo, meu inatingível e colossal anjo. O guardião do meu
paraíso, se é que existia isso.
Tentava em
vão fugir dos meus pensamentos, mas eles não me davam trégua, só provocavam,
enlouquecendo-me com um apetite voraz por Waldir, o único, que agora ocupava
todo o meu sistema de reflexão, o resto era o que menos importava, como um PC
com a memória danificada não por informações, mas, ao contrário, por
desinformações.
Subi ao meu
quarto sem quase pisar ao chão, quando cheguei, ofegante. Deitei em minha cama
para recuperar um pouco do ar que foi embora com a sensação do toque de Waldir.
Quando percebi, já estava tocando o meu corpo sem restrições, sem moralismos,
com os toques dos meus finos e pequenos dedos, pude ter a criatividade de transpor
meus instintos aos dele. Numa união de calor e também um pouco de frustração,
pensava: “Não está certo, isso não está certo Pedro, é o marido da minha mãe,
para com isso!”.
Só parei
quando a explosão de meus instintos veio á tona. E acordei do meu estado de
torpor. Lágrimas vieram, mas com uma respiração profunda e rude voltaram ao seu
lugar de origem. Deitei outra vez, mas, dessa vez não para se entregar ás
profundezas das sensações, e sim para as questões da razão, inimiga da
perfeição e auto controladora da vida. No momento, achei melhor usá-la, como
uma tentativa inútil de fixar uma decisão para organizar e patentear minha
própria mente, mente que não é só minha, mente que não me obedece quando quero.
E os dias
foram passando, e eu tentava tirar a atenção de Waldir sobre mim, quando ele ia
pra casa, eu ficava no quarto, no computador, e evitava ficar a só com ele,
acho que notou ás minhas revestidas, e perguntou pessoalmente á minha mãe do
que se tratava, esta fez questão de saber diretamente da minha pessoa.
- Nada mãe,
tenho muito trabalho para fazer, quase não estou tendo tempo para mim, relaxa,
não é nada não, tá?
Respondi,
acho que ela acreditou (como sempre) minha mãe depositava muita confiança em mim. Filho único, de
não dá trabalho, se acostumou ás vezes, até rotineiramente, com as minhas
faltas de aventuras e passividade diante de situações extremas.
O tempo, as
horas, os dias foram passando, até que rapidamente, minha consciência estava um
pouco límpida do nome Waldir e de sua referida imagem.
Mas no dia e
no momento certo, ficamos á sós, pois minha mãe iria passar a noite em uma
cidade distante, por conta de uma tia que adoecera. Eu, por conta de uma boa
educação e civilidade, não iria deixar Waldir sozinho na sala, vendo TV,
fazendo coisas só para se distrair, enquanto eu, na minha passividade ignóbil e
doentia, ignorava-o na minha masmorra. Não. Passei a maior parte do tempo com
ele, sempre sorrindo, lançando aquele olhar de Apolo ou Narciso, um Narciso
mais bonito, muito mais refinado, mas, muito menos convencido em sua própria
formosura.
Falávamos de
quase tudo (eu que por questões de sei lá o que, mantinha o silêncio como
válvula de escape, ele conseguiu, como sempre, quebrar essa minha estúpida lei)
astronomia, cozinha, TV, filmes e etc. Curiosamente, ele sequer tocou no nome
da minha mãe e do relacionamento deles nas conversas, e estranhamente, não
ficou entediado com a variedade de assuntos que ele depositava, afinal, gente
que fala demais se torna enfadonha depois de alguma horas, ele não, sabia falar
e ouvir na medida cera, e tinha um timbre certo de voz grossa e serena.
Quando me dei
conta, já estávamos á mesa para jantar, a maior parte foi ele que preparou, eu
só dei uma aparente ajuda e conversas fiadas para não deixá-lo de lado. Macarrão
á vinagrete, arroz, purê de limão, e um vinho dos mais refinados. A conversa
ia-se longe, primeiro comemos para depois degustar a bebida, ótima por sinal.
Deixando em nós dois um leve torpor, as risadas tornaram-se mais altas e
animadas, o som delas ecoava por todo o ambiente da casa. Já não falávamos
coisa com coisa, a nossa distância por convívio social e etiqueta, estreitou-se
de uma vez, e fomos com os braços um no outro, subindo á escada e direto ao
quarto de minha mãe. Veio-me lampejos de desejo nesse instante, desejos
reprimidos mais vivos e mal-educados, sem licença para invadirem todos os meus
sentidos.
Waldir, como
seu sorriso de comercial de creme dental, seguiu rumo ao banheiro, falou que
iria tomar banho para tentar tirar o efeito do álcool. Seu sorriso amenizou-se,
mas mantinha-se simpático aos olhos. A água caía em ritmo rápido e frenético,
eu deitado na cama me arrepiava e sentia meu corpo dormente pelo vinho, mas,
mesmo assim, em alerta por estar perto daquele ser. Meu corpo acordou, sem
restrição, sem barreiras, puro apetite de calor.
De súbito,
ele já estava ao meu lado, tocou-me com as mãos frias em meu braço, pois eu
havia cochilado um pouco, o efeito do vinho estava tão forte, que a minha
cabeça estava zonza e uníssona com um som de mantra hindu. O seu carisma não
havia limites, pois ainda sorrindo disse:
- Ei...
acorda ai vai, toma um banho para refrescar, a água tá uma maravilha, vai lá,
anda...
E assim,
mesmo com as pernas bambas, obedeci á sua ordem, feito um aluno disciplinado
sem qualquer poder de contestação.
Liguei o
chuveiro, a água parecia acalmar os meus instintos e pensamentos dilacerantes
de desejos. A minha cabeça continuava zonza, e o calor diminuído um pouco. Mas
a fixação por Ele invadiu a minha mente de forma avassaladora, as tais consequências
dessas coisas já não importavam mais, deixei-me entregar ao puro enlace de
paixão e euforia.
Terminei o
banho, com a sensação de medo, angústia e felicidade por estar ali, com Ele,
perto Dele, conversar com Ele, enfim só a presença Dele era suficiente para que
cargas de energia sobrecarregassem minha “Rede de Operações”, que há muito
tempo, tão confusas e desconectadas, finalmente achavam seu modem, a parte da
interconexão que nunca falhava, o acesso á ‘Rede’ de forma ilimitada e sem
interferências.
Na cama, lá
estava, lindo, um anjo pintado não por Deus, mas, por algo mais belo, sublime,
uma força mística, pagã, se o pecado mora ao lado, não sei bem dizer, só sei
que estava á pouco metros á minha frente e se chamava Waldir, isso, nome tão
homogêneo, mas, pronunciado em meus lábios sairiam de uma forma aveludada e
onipotente.
E eu
caminhava, caminhava e por quê? Por que, meu Deus? A força puxava as minhas
pernas, não tinha mais o controle da situação, minha pele ainda estava quente,
mas eu não sabia de quê? Tensão, alucinação, prazer... Enfim, há muitas coisas
que passam despercebidas em nossa vida que não dá para saber, de latente
velocidade dos nossos mais incontidos medos.
E eu já
estava bem perto, do lado oposto do leito, ele dormia de bêbado, mas a natureza
de seu cochilo era tão magnífica, parecia que dormia naturalmente, fadigado
pelo fardo do trabalho, a boca fechada, imagem de um príncipe nórdico, a
respiração corrente e diafragmática se igualava ao ritmo do abdômen e tórax de
mármore.
E eu, ou
melhor, meus pés iam ao alcance, traiçoeiros, sem controle, deixei me levar por
sensações desconcertantes de perigos que eu sinceramente nem mais temia. Não.
Meu corpo se contraiu de uma vez, estando poucos milímetros do dele, agora, eu
tentava lutar contra essa força, e contra o bom senso. Pela primeira vez na
vida, senti o frescor da ousadia, sussurros de desprendimento deliravam-me. Já
estava por completo em demasia do absurdo. Waldir, o culpado de tudo.
Deitei ao seu
lado da cama, evitando a forma abrupta, e sim a leveza de ter o seu corpo
extremamente perfeito sob o meu olhar.
Passei alguns
segundos admirando-o, o seu sono profundo e magnífico, até nisso ele era
surpreendente. Pronto, a consciência foi-se para os ares, depois eu daria
atenção á ela novamente, quando todas os meus entraves voltassem á tona outra
vez.
Os minutos
passando, ele continuava absorto na sua embriaguez, então, pude sentir a minha
mão tresloucada avançar sobre seu peito, aos poucos, tremiam, não por medo, mas
dos desejos contidos que estavam prestes á explodir.
Quando toquei nele, sua
temperatura quente pelo efeito da bebida, mas acho também devido á minha
empolgação, nosso calor misturou-se fusão perfeita.
E daí por
diante, foi só exaltação, minha mão passeava á vontade pela sua bela
musculatura, porém, mantive alguns limites, sim, um pouco da minha consciência
ainda restava, os segundos de harmonia acabaram quando toquei em seu rosto.
Certamente minhas mãos tinham ficado muito mais quentes, porque ele despertou e
abriu os olhos com uma leve reação, singela, mas um pouco estranha.
- Que é isso,
Pedro? – com uma voz rouca e ardentemente aveludada, meu corpo estremeceu de
súbito, porém, a audácia, característica que não fazia parte da minha pessoa,
mostrava-se defronte á ele, arrogante, imponente, onipotente, percebi então que
estávamos uns milímetros de corpo a corpo, só os nossos rostos estavam um pouco
distantes, mas podíamos sentir o hálito de um e outro.
- Calma...
não fala nada, agora não – pus o dedo levemente em sua boca, ele obedeceu com
uma submissão impossível de se crer, poderia reagir sim, mas não... deixou-se
levar por minha suposta autoridade.
- Mas... –
tentou reagir em um fraco protesto.
- Shhh!... –
bastou para eu me aproximar, e levemente beijar sua boca, ele não hesitou,
curiosamente ficou intimidado com minha atitude.
E assim, o
calor intensificou-se, rolávamos e nos abraçávamos pela cama, o desejo e a
cegueira tomaram conta de tudo, na voz, cabelos e até nos móveis do quarto.
Despimo-nos, como se já tivéssemos tomado intimidade de nossos sexos juntos há
muito tempo, colados, suados. Sua respiração ofegante, em sincronia com a
minha, seu modo de tocar tão carinhoso, sua mão passeava pelo meu rosto, indo e
parando em direção é minha cintura. Mas, paramos só nos beijos e carícias,
embora a vontade de ir além fosse do conhecimento de ambos, parece meio careta,
chato, ridículo, mas decidimos não pular estas tais etapas, e sim curtir o
silêncio e comentários e sussurros de hora em hora que surgiam entre nós.
E uma dessas
coisas, que ele disse e ficou marcado sem querer na minha cabeça; “Nossa
garoto, você me surpreendeu”. Por um momento fiquei pensando, nessa tal
surpresa que eu havia lhe causado, será que ele já estava esperando alguma
reação ao qual ele já havia me proporcionado? Ou será que não? Que estava tão
desligado que nem imaginava das minhas intenções, violentamente reprimidas e
subordinadas? Esqueci tais perguntas, e fiquei protegido em seus aconchegos e
abraços.
Minha
consciência voltou ao normal no dia seguinte, mas, estranhamente (e ainda bem),
o sentimento de culpa sequer vincou sua raiz em mim, já não sentia mais isso,
sentia uma aventura e atitude tão novas, sendo que os outros sentimentos, se
não foram embora, pelo menos não manifestaram-se para me atormentar. Waldir
também ajudou nisso, se não fosse ele, jamais teria coragem de enfrentar meus
bloqueios, e nunca teria a ousadia de tentar me jogar de uma vez naquela
tentação absurda, indo acabar na condição de “se” para a vida toda.
Como minha
mãe já havia chegado, toda feliz, falante, cheia de palavrório, gerúndios e
etc. Sequer perguntou como eu estava, acho que no fundo sabia que passamos bem
(e que bem) juntos. Em alguns segundos de sua ausência, Waldir e eu conversamos
rápido, á noite, pensei num instante, frases feitas, como; “Não devia ter feito
isso”; “Isso não vai se repeti mais”, ou até; “Não fale mais comigo!”. Porém,
me enganei, pois com o sorriso mais afável do mundo, ele disse: - Adorei a
noite de ontem. Foi lindo. Quando terei a oportunidade dos seus beijos outra
vez?
Gelei, como é
que aquele homem esbelto, másculo, maduro, lindo como um Deus e... namorado de
minha mãe, podia se declarar á um adolescente, magro, sem graça, mirrado e
desengoçado como eu? Coisas dessa vida, enigma aos nossos olhos.
Claro que ele
poderia ter-me quando quisesse, todos os segundos, minutos, horas em que
quisesse gastar comigo, mesmo por puro prazer. Aliás, o que estava em jogo ali
era a troca de sensações, não havia artificialidade, nem arrependimento,
palavras ou talvez sentimentos, que fugiram de mim de tal modo, perdendo
completamente a noção de perigo e sensatez.
Minha resposta
não foi dada, ou melhor, foi, porém, mais com o olhar do que com a fala, ele
entendeu, e ficou subitamente feliz, o sorriso mostrou-se reluzente e afável de
ponta á ponta, naquele momento só nos tocávamos as mãos, mas, o que importava?
Ainda sim, senti o seu calor sendo transmitido as minhas. O resto, tudo tinha
sido deletado, eu, completamente outra pessoa, principalmente quando perdi o
controle de mim mesmo, estranho como as coisas da vida tornam-se mais agradáveis
quando estamos fora dos eixos, do nosso próprio foco, e eu tinha certeza de que
ELE me protegeria, me guiaria, me edificaria, o meu artífice de mármore, o que
eu buscava há tanto tempo e nunca encontrava uma concha protetora e
confortável.
Os dias
passando, e nossa relação cada vez mais intensa e assustadora, sim,
assustadora, pois perdemos o caminho tortuoso da vergonha, dessa suposta
moralidade que impuseram na face dos “bons samaritanos”. O seu corpo para mim,
tornava-se dependência e mais proveito, certeza que eu nunca sentiria
resquícios de cansaço ou tédio, pois jamais cairíamos na rotina dos
“bem-casados” de faixada, ou nas discussões relacionadas do dia-dia, aliás,
ironizávamos essas coisas, em uma explícita galhofa, ele quer queira ou não,
tinha um vínculo... minha.. m
- Me diz, por
que demorei tanto tempo para ter você? – perguntou-me baixinho.
- Não sei,
acho que também eu não me conhecia, meu próprio eu vagava por aí, sem caminho,
sem cor...
- Pois, agora
que eu tenho, não quero te perder de vista, minhas mãos adoram tuas pelugens,
tua bunda lisa e redonda, teus olhos inocentes e cheios de amor.. – E me beijou
tão forte, que virou de cima de seu corpo para baixo, utilizando movimentos aos
quais os amantes mais apaixonados, violentamente se entregam em um ardente
estado de convulsão sexual.
Aproveitamos
tudo que estava ao nosso alcance, reflexões, línguas, mordidas e algumas
tristezas, sempre elas, que encontram uma brecha na nossa felicidade
momentânea, mas ela ia embora sem aviso e sem saudades.
O nível de
minha solidão aumentou um pouco, á partir de uma proposta de emprego que Waldir
recebeu em Brasília, ficaria sete meses longe, só voltaria quando ficasse de
férias ou poderíamos visitá-lo de vez em quando, mas pra mim não seria a mesma
coisa todo o que a gente sentiu por ímpeto, nesse lugar quente e remoto ao qual
convivo.
Não aguentei
até a última hora de sua partida. O ócio me corroia por dentro, irritava-me,
revistas e livros supérfluos sufocando a minha mente, minha mãe então, um
porre, trancava imediatamente em meu quarto, só para não ouvir suas lamurias ou
“ataques” de saudade que ela sentia. Como ele pode fazer isso comigo? Como a
vida pode fazer isso comigo? Embriagava-me infantilmente em meu esconderijo
fétido e sombrio, tentando captar a lembrança do vinho ao qual tivemos nossa
primeira noite. Tudo em vão. No dia seguinte acordava com uma ressaca
desgraçada, não pelo vinho barato, mas pela própria incompetência de não saber
degustar. Na escola, lugar ainda mais irritante, conversas frívolas e mãos
dadas, vontade de bater em qualquer um que se preocupasse com meu silêncio, com
a minha morbidez.
Em casa,
aconchegadamente sozinho, o telefone toca, tarde do dia, podia ser uma “amiga”
fútil de minha mãe colecionadora desses tipos de relacionamento ou alguma
cobrança monetária de uma empresa que a matriarca da casa havia feito.
Mas era
ELE... como não reconheci aquele “Alô” logo de cara, duas, três vezes, fiquei
mudo, respondi, ele sorriu sincero ao ouvir mina voz. Contei que estava só em
casa, queria que ele parasse no que estava pensando em dizer, e pudesse falar
realmente o que estaria pensado ao falar comigo.
E ele se
soltou voluntariamente, se a paixão já lhe corria os órgãos vitais, imaginas os
meus, vulneráveis á qualquer distensão. Trocamos juras pueris e umas alarmantes
de tanto desejo, formalidades não existiam mais, na verdade, nunca surgiram em
ambos, pois sabíamos que era uma questão de tempo até que o turbilhão de
sentimentos explodisse de uma vez. Meu coração ainda mais acelerado, quando sua
voz doce e grave de tenor sem pretensão falou: “Depois de amanhã, estarei aí,
fica tranquilo”. Respondi com um simples e bobo “Tá”. E ele notou a minha
letargia assustada e eufórica, e sorriu com a minha falta de palavras em
contorno naquele momento. Demos um breve tchau, esperei ele desligar, “que
ingenuidade, que cafonice”. Mas, o que mais me confortava é que ele estaria ali
comigo novamente. Assim, fui o mais depressa possível ao meu quarto, senti a
sensação das minhas forças finas em momentos de solidão.
Sim, ele
voltaria, e eu estaria de novo em prontidão, o meu personagem de temperamento
impetuoso voltaria á tona outra vez. Waldir... meu refúgio, volte assim que a
minha última gota de prazer sair do meu anseio pálido e pouco usado.
No dia de sua
chegada, não pensamos mil vezes, a mãe ausente em casa, o quarto vazio de
vontade dele. E assim, consumindo-nos em fogo e brasa. E paramos imediatamente
com o ranger da porta da sala, minha mãe havia chegado...
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