A Terra dos Sonhos Perdidos : Sobre vinhos e cheiro verde

Não, não é que eu não goste... Eu gosto, mas não gosto sempre. É só não gostar sempre da mesma forma, mas é gostar também! Por que cargas d’água é tão difícil assim de entender? Só por que eu sei gostar de uma forma desacostumada você se incomoda... Mas veja, não sigo essa moda de gostar sempre e sempre do mesmo jeito, ser o sempre... Isto sim me incomoda e ainda assim, pasme, nem sempre manterei isso em mente.

O que você quer que eu diga, se quando digo a verdade é ela quem o irrita? Fiz-me na inconstância e isso não me incomoda... É moda minha ser assim. Sou mais tese que certeza. Que mal há?

Entenda que por alguma razão, que não importa aqui nem agora, eu desaprendi ou aprendi diferente e isso eu não minto, na verdade acho tão interessante para omitir... O que estou dizendo é que só por que o meu sol nasce todos os dias ele não tem a obrigação de nascer sempre igual. Nem ele nem eu. E no mais, já tive dias nublados também... E renasci do mesmo jeito, todavia não só desse jeito e para sempre.

As pessoas se obrigam a uma vida. E obrigam outras vidas em prol da vida delas, grande erro o delas! Entregar suas vidas na mão de outras vidas... Vidas que não podem cuidar nem de si mesmas... E ainda dizer que é para sempre.

As pessoas querem as vidas alheias... Já eu, quero um instante apenas breve e florido, um instante que se dissipe como qualquer outro, mas que fique... Por não ter sido um instante qualquer...

As pessoas querem um livro! Brigam pela introdução, querem ser o clímax, o grande final daquela velha história... Eu? Eu quero um capitulo qualquer do meio... Algo sem delongas, mas que sem o qual a história também não prossiga.

Deus do céu e como gritam as pessoas! Elas querem casa... E se trancafiam para desmoronar aos poucos com as descobertas diárias e previsíveis de suas imperfeições (...) e eu meu Deus, quero o quê?

Eu estou dizendo que prefiro ser uma ponte... E Sim, eu sei que pelo menos em tese, ninguém se fixa numa ponte... Mas que mal há se a ponte ali estando e tendo lá permanecido depois de cruzada por passos eternos terá cumprido uma função melhor? Se não a mais bonita então a mais útil. E mais, quem disse que os passos não ficam? Ou que o pó da ponte não vai nesses pés, se tudo nesta vida é troca?

Eu vejo as pessoas brigarem por coisas, serem menos pessoas por isso... Das coisas quero o necessário; das pessoas a essência e só. E nunca para sempre, pois, "para sempre" as pessoas só pertencem a elas mesmas! Quem se engana é por que quer. É, Isso também pode ser triste, mas nem por isso eu choraria para sempre.

Aí, em algum momento, claro, eu aqui pensando, questionarei também se sou menos pessoa por isso,por querer diferente, mas faz algum sentido? Por que eu, bem, eu quero tudo isso que outros querem só que com alguma particularidade... E se isto é só um detalhe... Eu quero mais os detalhes então.

E não, por favor, não me peça pra avisar que venho... Eu nasci vendaval. não há esforço em tornar-me apropriada. Veja, assim é que perdemos a graça de sermos quem somos. E não raro e, por isso mesmo, nos esquecemos de ser. Desistimos. Fora que... Ah! Contar a verdade estragar sempre a surpresa...

Eu vou chegar, mas vai ser de mansinho e "pra sempre". Dei-me tempo, meu rapaz.

Assim também peço que não lamente quando eu for... Por que sinto sinceramente que pessoas e coisas foram feitas para ir e eu, não eu não poderia ser contra isso, se eu não fosse, me diga, como você poderia se orgulhar de me ver chegar lá?

Então vamos, deixe disso! Só sorria um pouco para mim, se puder... um instante só - tão pleno, tão simples! - E saia de uma vez na janela que hoje o sol nasceu sorrindo, este sim, creia é de todos e para sempre. Além do mais, alguém há de por os vinhos na geladeira que o cheiro verde já inebriou a sala de estar.

Jacqueline Lemos.