Ela desceu a escada de nossa casa sem fazer nenhum barulho, acordei
sobressaltada com a marcha do carro disparando rumo afora, eu tentei gritar,
mas já era tarde demais, mas ainda sentia o cheiro cítrico de seu perfume pela cama,
e foi embora com o vestido vermelho que sempre lhe caía bem, o vestido do nosso
primeiro ano juntas, e como prova de amor ela usava todos os dias. Já estava
acostumada com esses seus ataques súbitos de humor, quando quis me afogar na
banheira de espuma sem nenhum motivo, fiquei puta, é claro, mas como poderia
resistir aqueles olhos cheios de súplicas de um perdão para um ato tão
imperdoável. E assim vivemos de altos e baixos, principalmente por ela... Mas
como já havia dito, aprendi á absorver isso até para o meu próprio bem.
O jardim de nossa casa se tivesse lábios e línguas para falar,
blasfemaria com certeza as nossas volúpias desgarradas e despudoradas, até nas
noites geladas de inverno corríamos nuas pelo local sem qualquer sensação da
temperatura que dominava o ambiente, o legal é sentir a textura da pele, o
hálito quente trocado e o arfar cansada de ambas depois de toda explosão de
gozo e energia.
Só que na minha cama ela não estava mais, saiu em dispara pelo mundo,
como sempre, sem dizer o motivo, mas dessa vez senti que era pra sempre, pude
perceber na última conversa que tivemos; monossílabos pairavam sobre nós duas
de maneira abrupta, covarde, medrosa. E assim pude perceber que a nossa tal
chama estava pronta para ter um fim, como tínhamos uma perfeita sintonia, senti
que aquele era último, pois ela iria fazer uma besteira daquelas e eu também,
até nisso a nossa mente previu e confirmou, bastou só com um olhar para que
tudo se compreendesse de uma vez.
A partir do momento que deitamos majestosas e altivas em nosso leito, o
silêncio incomodava como um tumor cerebral difícil de aniquilar, só uma atitude
que veio timidamente de minha pessoa, pegar em sua mão macia e besuntada de
creme Impress Granmula, ela respondeu ao meu gesto de maneira mecânica, porém
fazendo-me ter uma ilusão errônea de que estava tudo bem, não estava, mas o que
importava naquele momento? Já suportava todas as suas idas e vindas sem menor
desespero, no conformismo de seu amor violento/cruel por mim.
Amanheceu, sozinha neste casarão eu me encontrava, não no sentido
literal, pois precisava dessa alguém tão imprevisível ao meu lado, ligo a TV de
súbito e vejo o carro vermelho escarlate em uma matéria sensacionalista de um
programa com o mesmo tom de sangue, não tive dúvidas. O carro vazio perto de uma ponte elevada
sobre o mar, a minha amada egoísta tirou de mim o que eu mais precisava: sua
vida, agora sim ela não poderia me surpreender mais com sua bipolaridade
exacerbada, e o pior, o vestido combinando com o seu carro furioso pela
estrada, atirando-o sobre o vento, rasgando-se pelas pedras e pela água salgada
do mar.
E assim se cumpriu mais uma história clichê, enfim pude sentir o vento
no rosto enquanto voava cachoeira abaixo de dentro do nosso jardim, como um
anjo branco, meu vestido também se rasgava e molhava-se, porém por água doce...
"Oi gente, estreando aqui no blog da minha querida amiga e colega de palco Jacqueline Lemos, sim, e fui eu que pedi ou melhor fiz questão de também ter meu canto nesse espaço, mostrar um pouco do meu raro lado sério á todos vocês, espero que gostem dos meus devaneios e desventuras." - Lindo Ramos
Aiii que loucuraaaaa!!!! Adorei o post e a também estimada presença em nosso blog!
ResponderExcluirForte, quente, ousado e claro, final impressionante...
Brinde-nos sempre.
Belíssimo Texto!
E vem muito mais loira, aguarde... comigo nada é água com açúcar!
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