Confidentes

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Vermelho





Ela desceu a escada de nossa casa sem fazer nenhum barulho, acordei sobressaltada com a marcha do carro disparando rumo afora, eu tentei gritar, mas já era tarde demais, mas ainda sentia o cheiro cítrico de seu perfume pela cama, e foi embora com o vestido vermelho que sempre lhe caía bem, o vestido do nosso primeiro ano juntas, e como prova de amor ela usava todos os dias. Já estava acostumada com esses seus ataques súbitos de humor, quando quis me afogar na banheira de espuma sem nenhum motivo, fiquei puta, é claro, mas como poderia resistir aqueles olhos cheios de súplicas de um perdão para um ato tão imperdoável. E assim vivemos de altos e baixos, principalmente por ela... Mas como já havia dito, aprendi á absorver isso até para o meu próprio bem.

O jardim de nossa casa se tivesse lábios e línguas para falar, blasfemaria com certeza as nossas volúpias desgarradas e despudoradas, até nas noites geladas de inverno corríamos nuas pelo local sem qualquer sensação da temperatura que dominava o ambiente, o legal é sentir a textura da pele, o hálito quente trocado e o arfar cansada de ambas depois de toda explosão de gozo e energia.

Só que na minha cama ela não estava mais, saiu em dispara pelo mundo, como sempre, sem dizer o motivo, mas dessa vez senti que era pra sempre, pude perceber na última conversa que tivemos; monossílabos pairavam sobre nós duas de maneira abrupta, covarde, medrosa. E assim pude perceber que a nossa tal chama estava pronta para ter um fim, como tínhamos uma perfeita sintonia, senti que aquele era último, pois ela iria fazer uma besteira daquelas e eu também, até nisso a nossa mente previu e confirmou, bastou só com um olhar para que tudo se compreendesse de uma vez.

A partir do momento que deitamos majestosas e altivas em nosso leito, o silêncio incomodava como um tumor cerebral difícil de aniquilar, só uma atitude que veio timidamente de minha pessoa, pegar em sua mão macia e besuntada de creme Impress Granmula, ela respondeu ao meu gesto de maneira mecânica, porém fazendo-me ter uma ilusão errônea de que estava tudo bem, não estava, mas o que importava naquele momento? Já suportava todas as suas idas e vindas sem menor desespero, no conformismo de seu amor violento/cruel por mim.

Amanheceu, sozinha neste casarão eu me encontrava, não no sentido literal, pois precisava dessa alguém tão imprevisível ao meu lado, ligo a TV de súbito e vejo o carro vermelho escarlate em uma matéria sensacionalista de um programa com o mesmo tom de sangue, não tive dúvidas.  O carro vazio perto de uma ponte elevada sobre o mar, a minha amada egoísta tirou de mim o que eu mais precisava: sua vida, agora sim ela não poderia me surpreender mais com sua bipolaridade exacerbada, e o pior, o vestido combinando com o seu carro furioso pela estrada, atirando-o sobre o vento, rasgando-se pelas pedras e pela água salgada do mar.

E assim se cumpriu mais uma história clichê, enfim pude sentir o vento no rosto enquanto voava cachoeira abaixo de dentro do nosso jardim, como um anjo branco, meu vestido também se rasgava e molhava-se, porém por água doce...



"Oi gente, estreando aqui no blog da minha querida amiga e colega de palco Jacqueline Lemos, sim, e fui eu que pedi ou melhor fiz questão de também ter meu canto nesse espaço, mostrar um pouco do meu raro lado sério á todos vocês, espero que gostem dos meus devaneios e desventuras." - Lindo Ramos

2 comentários:

  1. Aiii que loucuraaaaa!!!! Adorei o post e a também estimada presença em nosso blog!

    Forte, quente, ousado e claro, final impressionante...

    Brinde-nos sempre.

    Belíssimo Texto!

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  2. E vem muito mais loira, aguarde... comigo nada é água com açúcar!

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