Confidentes

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sobre Sexo, sonhos e sofismas... Sobre ser.


Davilina



Quando pela primeira vez

Resolvi te olhar com olhares de um pecado nobre

Quando naquela noite fria, num café qualquer -

Atlânticos à parte - vi teus olhos marejarem...

Quando me vi neles...

Quando vi que neles eu brilhava

E os vi brilhar para mim,

Tão lindamente,

A fim de resgatar-me de uma escuridão profunda

De tanto, tanto tempo!

Era possível?  Pensei...

Olhos que me convidavam para explodir em luzes!
Era certo?

Precisaria ter sido?...

E não foi afinal?

Naquela noite explodimos um mundo novo,

Um mundo onde o sol

Poderia ter a cor que quiséssemos quando fosse nascer

Seria uma cor tênue e alegre!

E isso nos bastaria.

Era um mundo onde a minha alma,

Não importando o frio que fizesse,

Estaria sempre aquecida!

Eram olhos que me enxergavam como se só eu existisse

E, por isso mesmo, naquela noite fria eu existira como nunca antes.

E isso era tudo!

Naquela noite eu vi a vida por entre os seus olhos

Ela estava viva e era linda!

Ela estava nos seus olhos

Que estavam irredutivelmente compenetrados nos meus.

Era você me convidando

A fazer parte da sua vida, afinal!

Éramos nós a fazer de duas histórias uma só!

E a sensação de que foram muitas, muitas vidas

Para que naquela noite pudéssemos nos reconhecer.

Quando o vi naquela noite fria

Desejar tão profundamente

Por fogo em meu espírito

Bradar em chamas o que sentia

Sem que isso se pudesse dizer com palavras

Sem que se precisasse delas...

Tola verborragia- pensei.

 - Caladas na penumbra dos corpos que

Desenharam arabescos, uma noite inteira...

Foi nessa noite que  te desejei para sempre e como nunca!

Quanta ansiedade e poesia,

Quantas vidas até ali...

Quantas cores em volta

E dentro de mim...

Naquela noite explodi!

Alma nua, colorida...

Que o estava reencontrando enquanto você

A cada novo toque a descobria. 

Que mil vidas esperaria

Para que pudesse,

Entre liames de loucura e poesia, viver-te outra vez!

Alma enobrecida. Tua...

Que explodiu no fulgor dos teus olhos...

E dormiu entorpecida no calor do teu cansaço

Que descansou no teu abraço

E de lá não mais saiu.

Foi assim que - naquela manhã fria

Entre olhos e laços

Enquanto o que ainda fosse dor fenecia

Na paz quente de um “Bom dia”

No aconchego dos teus braços -

Vi clarear o primeiro dos dias que acordei ao teu lado

Compreendendo finalmente, que os mais coloridos sonhos

Acontecem quando estamos acordados.



**************************

SER

Sou um anjo na chuva

Sem asa

Sem lenço

Sem compaixão

Sou o freio

Sou o arco

Sou arapuca do Seio

Sou ingrata indecisão

Sou ele

Sou ela

Sou deles

Imperfeição.

*******
 


                     ESTA FILOSOFIA ESTÁ VAZIA



 



"Definir-me? Ah... Mas isso eu não posso, nem quero! E se eu que sou eu, quase sempre, tão dona de mim não consegui fazê-lo quando um dia tentei, imagine Você!
Você errou meu bem...
Errou quando tentou tabelar nos seus conceitos o que eu sou. As suas receitas e experiência, (?) elas não servem aqui e não me faça essa cara, pois isso não é filosofia de vida, mas sim, a vida como de fato ela é.
Por que não, eu não sou uma pergunta dessas que você deduz, induz... Entende por seus vícios de analogia, e lamento em não sê-la, pois sei o quanto está acostumado a elas. De todo modo, ai de mim ter contigo os teus sofismas!...O quanto seria cômodo! E no fundo, como eu gostaria de acomodá-lo...

Por que afinal, você não procura ver além daquilo que julga ser fantasia? Aliás, você acreditou mesmo que juízos de valor resolveriam aqui? Não! Não estou em sua tabela-VERDADE... Como estaria? E para quê?
Não tente partir das suas premissas para uma conclusão que faça sentido...
Se não é lógico para você, acredite: Isto está para além do que o seu COTIDIANO sugere... E se nem esse cotidiano que você tanto julga conhecer e que tantas, tantas voltas (meu Deus!) pode dar... Que tanto pode arruinar e desconstruir se nem a ele você teme por que justamente a mim temeria?

Por que no fim meu bem (e essa pergunta você não precisa responder, pois entendi sozinha e a duras penas...) ser livre é justamente essa angústia de sempre estar preso, que pena... Que pena estarmos tão próximos dessa responsabilidade! E que pena sabê-la...

Próximos o suficiente para que você cegasse...
Cientes o suficiente para não questionar o não. (Se não... por que não? ) E ainda assim, distantes demais para que você pudesse entender que não.
Não, eu não sou uma pergunta!... E você está absolutamente correto! O que é pior e disso eu não discordo... Como discordaria?

Mas e você, questionou-se por um instante sequer se eu não estaria? Ou teve medo de espantar-se?
Todavia, perdoe-me o atrevimento, espantar-se não era o principio, o principal? E absoluto? Isso existe?
Sao tantos os sinais que não explicam coisa alguma. A boa e velha verborragia... os sempre uteis e demasiados três pontos... (...) (!) Ademais e a bem da verdade:

Não! Eu não sou uma pergunta!...
Eu era uma oportunidade.


Jacqueline Lemos

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

MIÚDAS




“Coincidências não existem, nem com a sorte se pode contar pra sempre. Quando se está subvertendo a Lei natural das coisas o mundo todo conspira em sinais de alerta”.
****


É Dose!

Não dá pra agradar todo mundo...
há momentos que mesmo ninguém!
Para mundo que eu vou descer
A minha com gelo, sou filha também.

                                                            
*****

"A verdadeira evolução humana se dá a partir da verdade que não deixa de existir entre o que você foi quando criança e o que você vai ser quando crescer. O que passar disso porém, goste ou não, são máscaras."

*****

O rio que passa


...Sabes quem sou?

Eu sou aquele rio de águas passadas

Assim batizada por teus lábios

E que tu conheces tão bem...


O rio que fluirá ainda mais libertino

Em algum canto da tua alma

Sempre que as noites escuras

E insolentes tentarem amedrontá-la


Para que assim te lembres que

Toda noite escura amanhece

Que todo medo passa

Que toda entrega é eterna

E que toda prece que se faz promessa

Não pode ser tocada ou banida!


Pois o rio que de amor afoga a alma

É também aquele que te lava a ferida...

E se são águas passadas...


Ainda passam trazendo e levando consigo

Aquela essência de vida.

*****


     "Sangria"


 Após ter repousado minhas asas em tuas mãos

Para que as pudesse proteger das adagas

Que sem piedade ou pudor me foram lançadas,

O vi com as mesmas mãos,

Enlaçadas num punhal,

Transpassar a minha alma...

Eis o maior dos covardes!

A pior das adagas...

Hoje te peço apenas,

 Na verdade, imploro!

Não te esqueças que

Jamais houve no mundo alguém que,

Sem ser carne da tua carne,

Sangue do teu sangue,

Tenha te amado como eu!

Assim também,

Jamais haverá no mundo alguém

Que o odeie tanto,

Como agora.                          
****     Jacqueline Lemos


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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Desconexões


Começou com uma leve brisa, dessas que nos dão um arrepio e um tímido aconchego. Depois, um furacão de proporções ameaçadoras, atingiu em cheio esse momento. Momentos terríveis até, mas, que o arrependimento não ousa á manipular.

Quando Waldir chegou em casa, foi aquela sensação de estar perto de um ser magnífico, não tanto pela sua beleza, que não deixava barato á qualquer galã de revista elegendo os homens mais perfeitos da face da Terra. Mas sim, pela sua singeleza, Waldir era um homem que eu jamais tivesse conhecido ou ouvido falar, além da beleza, era educado, cortês, comunicativo e interessante. Era o terceiro namorado que minha mãe apresentava-me, os outros, ou eram chatos metidos á intelectuais, ou cafajestes que só queriam tirar uma lasca e sair fora.
Minha mãe, no auge dos seus 37 anos, ainda se mantinha com um corpo e saúde impecáveis. E eu, nos meus 18, acabara de sair de um lance com uma garota, no geral iria fazer 3 meses. Bom, como eu falava, Waldir chegou sem muita cerimônia e me deu um abraço forte e apertado, disse que estava com muita vontade de me conhecer, pois minha mãe sempre comentava sobre mim á ele. Antes disso, pude senti sua barba ainda por nascer roçando na minha face, o que me deu um súbito êxtase, porém, fingi indiferença e sorri amarelo, prática quando se conhece pela primeira vez uma pessoa.
Waldir era desses caras que se admira e gosta logo de cara. Simpático, mostrava-se sempre sorridente á qualquer bobagem que eu falava, e minha mãe gostava da nossa relação estar indo muito bem. E em seguida me perguntou o que eu achava dele, eu respondi querendo não falar, contendo as palavras. “É, ele um cara legal, tomara que dure com você”. Enfim, acho que ela queria ouvir mais do que isso, mas se satisfez vendo á nossa afinidade na conversa em sala.
As semanas passaram-se, e Waldir mostrava-se cada vez mais íntimo, tanto da minha mãe, e estranhamente á mim. Um dia, fomos á fazenda dos seus avós maternos, enquanto minha mãe ajudava na cozinha e conversava com seus parentes, ele me convidou com um sorriso e semblante amigável (como sempre, de um astro que inexiste nessa atmosfera), para um passeio no rio, que ficava ali por perto. Eu, sem titubear ou possuir qualquer chance de raciocínio, aceitei o convite. Mas ia, com o coração latente, quando uma máquina á vapor está á ponto de ação, ficar á sós era pra mim estar em união com Deus, de qualquer ritual, qualquer tribo, estar numa cerimônia de sacrifício de mim mesmo.


Ele. Continuava falante (como sempre), eu, ás vezes só concordava (como sempre). Disfarçava estar em uma completa atenção junto á ele, mas, meus pensamentos iam dos mais sublimes, até o complexo pânico. Não sei de onde, mas era pânico. De repente, ele falou:
- O que aconteceu Pedro? Está tão calado.
Eu respondi que era nada, besteiras minhas. Ele continuava com o interrogatório, perguntava que “besteiras” eram essas. E eu, resistindo, respondi que era nada. Finalmente ele cedeu, e começou com outro tipo de assunto, pra ver se quebrava o gelo, principalmente o meu gelo, meu anestesiamento que me acompanha pela vida toda.
- Sabe Pedro, desde o dia que eu me apaixonei por sua mãe, a vida só tem me trazido felicidades. Consegui um emprego novo, terminei a minha faculdade, e já penso comprar um carro daqui a dois meses... E conheci você que é um garoto muito especial. Além  de ser um bom filho. Gosto muito de você Pedro, e lhe admiro muito...
Ao falar isso, ele pôs a mão levemente na minha perna esquerda, pude sentir um forte calor nela. Enquanto ele olhava ao horizonte, meus olhos e pensamentos fixaram em sua mão grande, majestosa e voraz, e nas últimas palavras que pronunciou, “GOSTO MUITO DE VOCÊ PEDRO”, estavam como ecos na minha mente, martelando insistentemente. Os meus desejos se sobressaltaram de uma vez, quentes, singelos e intensos. Tentei fazer força para controlá-los, mas já era tarde demais, eu estava completamente mergulhado no mar de doces e perigosos sonhos.
Na volta pra casa, o mais perturbador ainda, no carro iam conversando e sorrindo alegremente minha mãe e ele, meu anjo, meu inatingível e colossal anjo. O guardião do meu paraíso, se é que existia isso.
Tentava em vão fugir dos meus pensamentos, mas eles não me davam trégua, só provocavam, enlouquecendo-me com um apetite voraz por Waldir, o único, que agora ocupava todo o meu sistema de reflexão, o resto era o que menos importava, como um PC com a memória danificada não por informações, mas, ao contrário, por desinformações.
Subi ao meu quarto sem quase pisar ao chão, quando cheguei, ofegante. Deitei em minha cama para recuperar um pouco do ar que foi embora com a sensação do toque de Waldir. Quando percebi, já estava tocando o meu corpo sem restrições, sem moralismos, com os toques dos meus finos e pequenos dedos, pude ter a criatividade de transpor meus instintos aos dele. Numa união de calor e também um pouco de frustração, pensava: “Não está certo, isso não está certo Pedro, é o marido da minha mãe, para com isso!”.
Só parei quando a explosão de meus instintos veio á tona. E acordei do meu estado de torpor. Lágrimas vieram, mas com uma respiração profunda e rude voltaram ao seu lugar de origem. Deitei outra vez, mas, dessa vez não para se entregar ás profundezas das sensações, e sim para as questões da razão, inimiga da perfeição e auto controladora da vida. No momento, achei melhor usá-la, como uma tentativa inútil de fixar uma decisão para organizar e patentear minha própria mente, mente que não é só minha, mente que não me obedece quando quero.

E os dias foram passando, e eu tentava tirar a atenção de Waldir sobre mim, quando ele ia pra casa, eu ficava no quarto, no computador, e evitava ficar a só com ele, acho que notou ás minhas revestidas, e perguntou pessoalmente á minha mãe do que se tratava, esta fez questão de saber diretamente da minha pessoa.
- Nada mãe, tenho muito trabalho para fazer, quase não estou tendo tempo para mim, relaxa, não é nada não, tá?
Respondi, acho que ela acreditou (como sempre) minha mãe depositava muita confiança em mim. Filho único, de não dá trabalho, se acostumou ás vezes, até rotineiramente, com as minhas faltas de aventuras e passividade diante de situações extremas.
O tempo, as horas, os dias foram passando, até que rapidamente, minha consciência estava um pouco límpida do nome Waldir e de sua referida imagem.
Mas no dia e no momento certo, ficamos á sós, pois minha mãe iria passar a noite em uma cidade distante, por conta de uma tia que adoecera. Eu, por conta de uma boa educação e civilidade, não iria deixar Waldir sozinho na sala, vendo TV, fazendo coisas só para se distrair, enquanto eu, na minha passividade ignóbil e doentia, ignorava-o na minha masmorra. Não. Passei a maior parte do tempo com ele, sempre sorrindo, lançando aquele olhar de Apolo ou Narciso, um Narciso mais bonito, muito mais refinado, mas, muito menos convencido em sua própria formosura.
Falávamos de quase tudo (eu que por questões de sei lá o que, mantinha o silêncio como válvula de escape, ele conseguiu, como sempre, quebrar essa minha estúpida lei) astronomia, cozinha, TV, filmes e etc. Curiosamente, ele sequer tocou no nome da minha mãe e do relacionamento deles nas conversas, e estranhamente, não ficou entediado com a variedade de assuntos que ele depositava, afinal, gente que fala demais se torna enfadonha depois de alguma horas, ele não, sabia falar e ouvir na medida cera, e tinha um timbre certo de voz grossa e serena.
Quando me dei conta, já estávamos á mesa para jantar, a maior parte foi ele que preparou, eu só dei uma aparente ajuda e conversas fiadas para não deixá-lo de lado. Macarrão á vinagrete, arroz, purê de limão, e um vinho dos mais refinados. A conversa ia-se longe, primeiro comemos para depois degustar a bebida, ótima por sinal. Deixando em nós dois um leve torpor, as risadas tornaram-se mais altas e animadas, o som delas ecoava por todo o ambiente da casa. Já não falávamos coisa com coisa, a nossa distância por convívio social e etiqueta, estreitou-se de uma vez, e fomos com os braços um no outro, subindo á escada e direto ao quarto de minha mãe. Veio-me lampejos de desejo nesse instante, desejos reprimidos mais vivos e mal-educados, sem licença para invadirem todos os meus sentidos.
Waldir, como seu sorriso de comercial de creme dental, seguiu rumo ao banheiro, falou que iria tomar banho para tentar tirar o efeito do álcool. Seu sorriso amenizou-se, mas mantinha-se simpático aos olhos. A água caía em ritmo rápido e frenético, eu deitado na cama me arrepiava e sentia meu corpo dormente pelo vinho, mas, mesmo assim, em alerta por estar perto daquele ser. Meu corpo acordou, sem restrição, sem barreiras, puro apetite de calor.
De súbito, ele já estava ao meu lado, tocou-me com as mãos frias em meu braço, pois eu havia cochilado um pouco, o efeito do vinho estava tão forte, que a minha cabeça estava zonza e uníssona com um som de mantra hindu. O seu carisma não havia limites, pois ainda sorrindo disse:
- Ei... acorda ai vai, toma um banho para refrescar, a água tá uma maravilha, vai lá, anda...
E assim, mesmo com as pernas bambas, obedeci á sua ordem, feito um aluno disciplinado sem qualquer poder de contestação.
Liguei o chuveiro, a água parecia acalmar os meus instintos e pensamentos dilacerantes de desejos. A minha cabeça continuava zonza, e o calor diminuído um pouco. Mas a fixação por Ele invadiu a minha mente de forma avassaladora, as tais consequências dessas coisas já não importavam mais, deixei-me entregar ao puro enlace de paixão e euforia.
Terminei o banho, com a sensação de medo, angústia e felicidade por estar ali, com Ele, perto Dele, conversar com Ele, enfim só a presença Dele era suficiente para que cargas de energia sobrecarregassem minha “Rede de Operações”, que há muito tempo, tão confusas e desconectadas, finalmente achavam seu modem, a parte da interconexão que nunca falhava, o acesso á ‘Rede’ de forma ilimitada e sem interferências.

Na cama, lá estava, lindo, um anjo pintado não por Deus, mas, por algo mais belo, sublime, uma força mística, pagã, se o pecado mora ao lado, não sei bem dizer, só sei que estava á pouco metros á minha frente e se chamava Waldir, isso, nome tão homogêneo, mas, pronunciado em meus lábios sairiam de uma forma aveludada e onipotente.
E eu caminhava, caminhava e por quê? Por que, meu Deus? A força puxava as minhas pernas, não tinha mais o controle da situação, minha pele ainda estava quente, mas eu não sabia de quê? Tensão, alucinação, prazer... Enfim, há muitas coisas que passam despercebidas em nossa vida que não dá para saber, de latente velocidade dos nossos mais incontidos medos.
E eu já estava bem perto, do lado oposto do leito, ele dormia de bêbado, mas a natureza de seu cochilo era tão magnífica, parecia que dormia naturalmente, fadigado pelo fardo do trabalho, a boca fechada, imagem de um príncipe nórdico, a respiração corrente e diafragmática se igualava ao ritmo do abdômen e tórax de mármore.
E eu, ou melhor, meus pés iam ao alcance, traiçoeiros, sem controle, deixei me levar por sensações desconcertantes de perigos que eu sinceramente nem mais temia. Não. Meu corpo se contraiu de uma vez, estando poucos milímetros do dele, agora, eu tentava lutar contra essa força, e contra o bom senso. Pela primeira vez na vida, senti o frescor da ousadia, sussurros de desprendimento deliravam-me. Já estava por completo em demasia do absurdo. Waldir, o culpado de tudo.
Deitei ao seu lado da cama, evitando a forma abrupta, e sim a leveza de ter o seu corpo extremamente perfeito sob o meu olhar.
Passei alguns segundos admirando-o, o seu sono profundo e magnífico, até nisso ele era surpreendente. Pronto, a consciência foi-se para os ares, depois eu daria atenção á ela novamente, quando todas os meus entraves voltassem á tona outra vez.
Os minutos passando, ele continuava absorto na sua embriaguez, então, pude sentir a minha mão tresloucada avançar sobre seu peito, aos poucos, tremiam, não por medo, mas dos desejos contidos que estavam prestes á explodir.
Quando toquei nele, sua temperatura quente pelo efeito da bebida, mas acho também devido á minha empolgação, nosso calor misturou-se fusão perfeita.
E daí por diante, foi só exaltação, minha mão passeava á vontade pela sua bela musculatura, porém, mantive alguns limites, sim, um pouco da minha consciência ainda restava, os segundos de harmonia acabaram quando toquei em seu rosto. Certamente minhas mãos tinham ficado muito mais quentes, porque ele despertou e abriu os olhos com uma leve reação, singela, mas um pouco estranha.
- Que é isso, Pedro? – com uma voz rouca e ardentemente aveludada, meu corpo estremeceu de súbito, porém, a audácia, característica que não fazia parte da minha pessoa, mostrava-se defronte á ele, arrogante, imponente, onipotente, percebi então que estávamos uns milímetros de corpo a corpo, só os nossos rostos estavam um pouco distantes, mas podíamos sentir o hálito de um e outro.
- Calma... não fala nada, agora não – pus o dedo levemente em sua boca, ele obedeceu com uma submissão impossível de se crer, poderia reagir sim, mas não... deixou-se levar por minha suposta autoridade.
- Mas... – tentou reagir em um fraco protesto.
- Shhh!... – bastou para eu me aproximar, e levemente beijar sua boca, ele não hesitou, curiosamente ficou intimidado com minha atitude.


E assim, o calor intensificou-se, rolávamos e nos abraçávamos pela cama, o desejo e a cegueira tomaram conta de tudo, na voz, cabelos e até nos móveis do quarto. Despimo-nos, como se já tivéssemos tomado intimidade de nossos sexos juntos há muito tempo, colados, suados. Sua respiração ofegante, em sincronia com a minha, seu modo de tocar tão carinhoso, sua mão passeava pelo meu rosto, indo e parando em direção é minha cintura. Mas, paramos só nos beijos e carícias, embora a vontade de ir além fosse do conhecimento de ambos, parece meio careta, chato, ridículo, mas decidimos não pular estas tais etapas, e sim curtir o silêncio e comentários e sussurros de hora em hora que surgiam entre nós.
E uma dessas coisas, que ele disse e ficou marcado sem querer na minha cabeça; “Nossa garoto, você me surpreendeu”. Por um momento fiquei pensando, nessa tal surpresa que eu havia lhe causado, será que ele já estava esperando alguma reação ao qual ele já havia me proporcionado? Ou será que não? Que estava tão desligado que nem imaginava das minhas intenções, violentamente reprimidas e subordinadas? Esqueci tais perguntas, e fiquei protegido em seus aconchegos e abraços.
Minha consciência voltou ao normal no dia seguinte, mas, estranhamente (e ainda bem), o sentimento de culpa sequer vincou sua raiz em mim, já não sentia mais isso, sentia uma aventura e atitude tão novas, sendo que os outros sentimentos, se não foram embora, pelo menos não manifestaram-se para me atormentar. Waldir também ajudou nisso, se não fosse ele, jamais teria coragem de enfrentar meus bloqueios, e nunca teria a ousadia de tentar me jogar de uma vez naquela tentação absurda, indo acabar na condição de “se” para a vida toda.
Como minha mãe já havia chegado, toda feliz, falante, cheia de palavrório, gerúndios e etc. Sequer perguntou como eu estava, acho que no fundo sabia que passamos bem (e que bem) juntos. Em alguns segundos de sua ausência, Waldir e eu conversamos rápido, á noite, pensei num instante, frases feitas, como; “Não devia ter feito isso”; “Isso não vai se repeti mais”, ou até; “Não fale mais comigo!”. Porém, me enganei, pois com o sorriso mais afável do mundo, ele disse: - Adorei a noite de ontem. Foi lindo. Quando terei a oportunidade dos seus beijos outra vez?
Gelei, como é que aquele homem esbelto, másculo, maduro, lindo como um Deus e... namorado de minha mãe, podia se declarar á um adolescente, magro, sem graça, mirrado e desengoçado como eu? Coisas dessa vida, enigma aos nossos olhos.
Claro que ele poderia ter-me quando quisesse, todos os segundos, minutos, horas em que quisesse gastar comigo, mesmo por puro prazer. Aliás, o que estava em jogo ali era a troca de sensações, não havia artificialidade, nem arrependimento, palavras ou talvez sentimentos, que fugiram de mim de tal modo, perdendo completamente a noção de perigo e sensatez.
Minha resposta não foi dada, ou melhor, foi, porém, mais com o olhar do que com a fala, ele entendeu, e ficou subitamente feliz, o sorriso mostrou-se reluzente e afável de ponta á ponta, naquele momento só nos tocávamos as mãos, mas, o que importava? Ainda sim, senti o seu calor sendo transmitido as minhas. O resto, tudo tinha sido deletado, eu, completamente outra pessoa, principalmente quando perdi o controle de mim mesmo, estranho como as coisas da vida tornam-se mais agradáveis quando estamos fora dos eixos, do nosso próprio foco, e eu tinha certeza de que ELE me protegeria, me guiaria, me edificaria, o meu artífice de mármore, o que eu buscava há tanto tempo e nunca encontrava uma concha protetora e confortável.


Os dias passando, e nossa relação cada vez mais intensa e assustadora, sim, assustadora, pois perdemos o caminho tortuoso da vergonha, dessa suposta moralidade que impuseram na face dos “bons samaritanos”. O seu corpo para mim, tornava-se dependência e mais proveito, certeza que eu nunca sentiria resquícios de cansaço ou tédio, pois jamais cairíamos na rotina dos “bem-casados” de faixada, ou nas discussões relacionadas do dia-dia, aliás, ironizávamos essas coisas, em uma explícita galhofa, ele quer queira ou não, tinha um vínculo... minha.. m
- Me diz, por que demorei tanto tempo para ter você? – perguntou-me baixinho.
- Não sei, acho que também eu não me conhecia, meu próprio eu vagava por aí, sem caminho, sem cor...
- Pois, agora que eu tenho, não quero te perder de vista, minhas mãos adoram tuas pelugens, tua bunda lisa e redonda, teus olhos inocentes e cheios de amor.. – E me beijou tão forte, que virou de cima de seu corpo para baixo, utilizando movimentos aos quais os amantes mais apaixonados, violentamente se entregam em um ardente estado de convulsão sexual.
Aproveitamos tudo que estava ao nosso alcance, reflexões, línguas, mordidas e algumas tristezas, sempre elas, que encontram uma brecha na nossa felicidade momentânea, mas ela ia embora sem aviso e sem saudades.
O nível de minha solidão aumentou um pouco, á partir de uma proposta de emprego que Waldir recebeu em Brasília, ficaria sete meses longe, só voltaria quando ficasse de férias ou poderíamos visitá-lo de vez em quando, mas pra mim não seria a mesma coisa todo o que a gente sentiu por ímpeto, nesse lugar quente e remoto ao qual convivo.
Não aguentei até a última hora de sua partida. O ócio me corroia por dentro, irritava-me, revistas e livros supérfluos sufocando a minha mente, minha mãe então, um porre, trancava imediatamente em meu quarto, só para não ouvir suas lamurias ou “ataques” de saudade que ela sentia. Como ele pode fazer isso comigo? Como a vida pode fazer isso comigo? Embriagava-me infantilmente em meu esconderijo fétido e sombrio, tentando captar a lembrança do vinho ao qual tivemos nossa primeira noite. Tudo em vão. No dia seguinte acordava com uma ressaca desgraçada, não pelo vinho barato, mas pela própria incompetência de não saber degustar. Na escola, lugar ainda mais irritante, conversas frívolas e mãos dadas, vontade de bater em qualquer um que se preocupasse com meu silêncio, com a minha morbidez.
Em casa, aconchegadamente sozinho, o telefone toca, tarde do dia, podia ser uma “amiga” fútil de minha mãe colecionadora desses tipos de relacionamento ou alguma cobrança monetária de uma empresa que a matriarca da casa havia feito.
Mas era ELE... como não reconheci aquele “Alô” logo de cara, duas, três vezes, fiquei mudo, respondi, ele sorriu sincero ao ouvir mina voz. Contei que estava só em casa, queria que ele parasse no que estava pensando em dizer, e pudesse falar realmente o que estaria pensado ao falar comigo.
E ele se soltou voluntariamente, se a paixão já lhe corria os órgãos vitais, imaginas os meus, vulneráveis á qualquer distensão. Trocamos juras pueris e umas alarmantes de tanto desejo, formalidades não existiam mais, na verdade, nunca surgiram em ambos, pois sabíamos que era uma questão de tempo até que o turbilhão de sentimentos explodisse de uma vez. Meu coração ainda mais acelerado, quando sua voz doce e grave de tenor sem pretensão falou: “Depois de amanhã, estarei aí, fica tranquilo”. Respondi com um simples e bobo “Tá”. E ele notou a minha letargia assustada e eufórica, e sorriu com a minha falta de palavras em contorno naquele momento. Demos um breve tchau, esperei ele desligar, “que ingenuidade, que cafonice”. Mas, o que mais me confortava é que ele estaria ali comigo novamente. Assim, fui o mais depressa possível ao meu quarto, senti a sensação das minhas forças finas em momentos de solidão.
Sim, ele voltaria, e eu estaria de novo em prontidão, o meu personagem de temperamento impetuoso voltaria á tona outra vez. Waldir... meu refúgio, volte assim que a minha última gota de prazer sair do meu anseio pálido e pouco usado.
No dia de sua chegada, não pensamos mil vezes, a mãe ausente em casa, o quarto vazio de vontade dele. E assim, consumindo-nos em fogo e brasa. E paramos imediatamente com o ranger da porta da sala, minha mãe havia chegado...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Vermelho





Ela desceu a escada de nossa casa sem fazer nenhum barulho, acordei sobressaltada com a marcha do carro disparando rumo afora, eu tentei gritar, mas já era tarde demais, mas ainda sentia o cheiro cítrico de seu perfume pela cama, e foi embora com o vestido vermelho que sempre lhe caía bem, o vestido do nosso primeiro ano juntas, e como prova de amor ela usava todos os dias. Já estava acostumada com esses seus ataques súbitos de humor, quando quis me afogar na banheira de espuma sem nenhum motivo, fiquei puta, é claro, mas como poderia resistir aqueles olhos cheios de súplicas de um perdão para um ato tão imperdoável. E assim vivemos de altos e baixos, principalmente por ela... Mas como já havia dito, aprendi á absorver isso até para o meu próprio bem.

O jardim de nossa casa se tivesse lábios e línguas para falar, blasfemaria com certeza as nossas volúpias desgarradas e despudoradas, até nas noites geladas de inverno corríamos nuas pelo local sem qualquer sensação da temperatura que dominava o ambiente, o legal é sentir a textura da pele, o hálito quente trocado e o arfar cansada de ambas depois de toda explosão de gozo e energia.

Só que na minha cama ela não estava mais, saiu em dispara pelo mundo, como sempre, sem dizer o motivo, mas dessa vez senti que era pra sempre, pude perceber na última conversa que tivemos; monossílabos pairavam sobre nós duas de maneira abrupta, covarde, medrosa. E assim pude perceber que a nossa tal chama estava pronta para ter um fim, como tínhamos uma perfeita sintonia, senti que aquele era último, pois ela iria fazer uma besteira daquelas e eu também, até nisso a nossa mente previu e confirmou, bastou só com um olhar para que tudo se compreendesse de uma vez.

A partir do momento que deitamos majestosas e altivas em nosso leito, o silêncio incomodava como um tumor cerebral difícil de aniquilar, só uma atitude que veio timidamente de minha pessoa, pegar em sua mão macia e besuntada de creme Impress Granmula, ela respondeu ao meu gesto de maneira mecânica, porém fazendo-me ter uma ilusão errônea de que estava tudo bem, não estava, mas o que importava naquele momento? Já suportava todas as suas idas e vindas sem menor desespero, no conformismo de seu amor violento/cruel por mim.

Amanheceu, sozinha neste casarão eu me encontrava, não no sentido literal, pois precisava dessa alguém tão imprevisível ao meu lado, ligo a TV de súbito e vejo o carro vermelho escarlate em uma matéria sensacionalista de um programa com o mesmo tom de sangue, não tive dúvidas.  O carro vazio perto de uma ponte elevada sobre o mar, a minha amada egoísta tirou de mim o que eu mais precisava: sua vida, agora sim ela não poderia me surpreender mais com sua bipolaridade exacerbada, e o pior, o vestido combinando com o seu carro furioso pela estrada, atirando-o sobre o vento, rasgando-se pelas pedras e pela água salgada do mar.

E assim se cumpriu mais uma história clichê, enfim pude sentir o vento no rosto enquanto voava cachoeira abaixo de dentro do nosso jardim, como um anjo branco, meu vestido também se rasgava e molhava-se, porém por água doce...



"Oi gente, estreando aqui no blog da minha querida amiga e colega de palco Jacqueline Lemos, sim, e fui eu que pedi ou melhor fiz questão de também ter meu canto nesse espaço, mostrar um pouco do meu raro lado sério á todos vocês, espero que gostem dos meus devaneios e desventuras." - Lindo Ramos