Confidentes

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Brindemos!






O CÁLICE DA COMEMORAÇÃO
Não bata.
Eu não estou.
Não, eu não vou te atender...
Ouço ruídos? Chaves de fenda?
Uma fresta fora aberta em minha janela?
Você vai mesmo insistir?
*
Mas essa musica toca tão alto
Gritos tão excitados dentro de mim!
O bom vinho  dança na côncava taça que tenho nas mãos...
Como outrora dançava tua  face desconfigurada entre minhas coxas
Enquanto eu, enojada, admirava a sua vulnerabilidade
Tão factual. Tão minha...
Em pensar que ali eu poderia ter-te enforcado e... Não o fiz.
*
Duas ou três garrafas e, eu sei...
Esta noite me guarda ainda algum prazer,
Então, não vai cansar de bater?
Não vê que está cansando toda a poesia?
 *
Se eu tenho medo?
Foi-se o dia!
O meu socorro chegou...
O meu destino sou eu.
Dei-te a chance de um adeus...
E você, esta noite, deu-me a chance de alguma alegria.
Ah! Eu sempre soube que este dia chegaria...
Esta será a melhor noite que já tivemos.
 *
Mas não bata.
Esta porta não se abrirá.
Do lado de cá, sou eu quem decido as regras do jogo.
*
Não, por favor, não ligue mais
Isso não o tem desgastado?
Se já disse e repeti
Que o laço em que me fizeste refém se desfez
Não te soa patético persistir?
Existem formas mais dignas de perder, eu já disse.
*
O que esperava conseguir aqui?
Começo a sentir pena de você
E isso me irrita todos os poros
Você deveria saber!
Uma taça se lança contra a parede
No ar ela dança essa nova canção...
 *
Um ruído estridente...
Seriam gritos?
Estilhaços no chão.
O vermelho que escorre denso... como um corpo que se deita e...
“voilà” ! Que belíssima decoração...
 *
Passado o encanto me atenho outra vez a esta cena deprimente...
Você a rastejar no meu portão.
Já disse, desligue-se e desista de me ligar
A mim pouco importa se...
Hoje é seu aniversário?
Mas me diga, o que de verdade você esperava conseguir de mim...
Uma cesta de bombons, um abraço, um cartão?
Sinto muito se soar egoísta, mas, esta noite é minha!
Brindemos minha alforria e não meu perdão...
*
Mas por favor, sem bater, eu já disse!
Aqui você não entra nunca mais.
A partir de hoje, eu me pertenço
Eu me basto.
De um modo que você nunca poderia alcançar ou entender...
*
Parabéns para você...
A  musica não te deixa ouvir?
Você poderia parar de gritar um instante?!
Isso até parece dor...  
Esta frio ai? Você treme...
Quer mesmo me convencer de que isto é amor?
 *
Logo eu, que quase morri por três vezes
Sem que pudesse te esperar?
Eu que o vi, tão contente, tecer corroas para o meu funeral...
Onde está toda essa alegria agora?
Dói saber que você perdeu?
Dói se eu cantar?
Então dói saber que nada está igual?
O fato é que eu, querido, embora todos duvidassem,
Sobrevivi a você!
Tornei-me melhor que esse seu desespero,
Seu rosto contorcido... Enrijecido cada vez mais
E sim, eu entendo querido o quanto isso deve doer em você...
Aliás, sempre fui tão compreensiva com você, não?
Mas essas batidas na porta! Que droga!
Você quer mesmo me tirar do sério?
 *
Eu sobrevivi!
Já você...
 *
Saia da minha porta antes que...
Ah, não!... O  meu fino carpete!
Este seu sangue podre.
Veja só você rastejando como um verme
No meu chão.
Chegaria o dia, eu sempre soube...
Vamos, seja breve!
Precisarei limpar tudo isso antes da próxima sessão...
 *
O que você disse?
Não vai adiantar,eu já disse...
Com todo este som ninguém te ouvirá.
Alias, ouça aqui você!
Lembra-se dessa musica?
É aquela que nunca dançamos...
Você nunca podia.
A canção que você nunca mais vai dançar...
Isso não te dói?
Ah, isso dói! Por isso mesmo escolhi assim o nosso adeus.
Ou melhor, o seu...
Oh! Deus... já estou bêbada?
*
Piedade, piedade! Você grita esbaforido, abafado
Enquanto eu me dou ao vislumbre de observar
Seus lábios rachados... Mudos, desesperados!
Piedade! Você implora entre espasmos...
Balbuciando letras...
Afogando-se no próprio fado
Cuspindo sangue e  vomitando o passado
Que um dia me tomou.
Piedade?
 *
Não adianta, eu já disse...
Mas grite mais alto!
Chega a ser romântico ver-te assim
Clamando pela a chave da porta que ninguém vai abrir...
A chave que se foi dissolvida num cálice de acido sulfúrico
Este cálice que brindei com você...
Esta taça... os seus estilhaços!
 *
São gritos? Contrações? Fogos de artifício?
Veja, é noite de Ano Novo!
Seus olhos sempre tão frios...
Hoje ainda mais frios, perdidos e agora calados...
*
Ah! Seus olhos fixos nos desenhos de gesso do meu quarto
E eu que pensei que você nunca os havia reparado...
Parece analisá-los agora assim,
tão profundamente!
Tão empenhado...
Tão... Morto.
Um brinde!
*

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O Espinho da Rosa
 
Acreditei
Com todas as minhas forças
E bem sei que esta não sendo a primeira vez
Também a última não será
Que as mais tolas crenças tentarão me matar.
Por isso mesmo o limiar da vida;
 Por que é o  medo da morte que me fortalece.
E de força, me diga, quem não precisa?
Mesmo uma rosa há de ter espinhos, meu caro...
Tente aceitar e seguir em frente
Isso não é nada perto do que eu já derramei.
Quanto ao perfume da rosa
Que um dia inebriou os teus pulmões;
Contestou os teus porquês...
É resquício e não essência
Logo, não durará.
Há de haver outras fragrâncias
Enquanto que essa o tempo...
O sábio tempo há de vir te roubar.
Por que no mais, Foi o silêncio quem nos devastou.
Não o perfume barato, o batom no colarinho...
Hora querido, pelo quê me tomas?
Meu bem, meu bem...
Choras por quê?
Na rua há de haver fragrâncias tantas!
Tantos rebolados, sorrisos entregues;
Cabelos reluzentes, peles tão novas;
É mesmo tão macio o beijo de mulher!
E são tantas, não é mesmo?...
Não seria eu a condená-lo.
Logo eu que tão pessoalmente o sei.
Por isso não tarde!
Não por um perfume antigo, não por isso.
No que depender de mim...
O mundo é todo seu meu bem.
Ah, querido... Para que tanta sutileza tardia?
O vi tantas vezes devastar este mesmo caminho
E por ele mesmo tornar desorientado
Que agora...
Jaz  finada a revelia em meu coração.
Amor que é amor liberta e eu meu caro
Depois de tanto, mereço a liberdade também.
Vá embora!
Se pouco quis se importar quando podia,
Se já não somos capazes de rir disso tudo...
Se Vê-se que já não te é necessário amparo algum,
Não permita que o maldito perfume
Dos nossos áureos anos permaneça em você!
Como veneno que corre nas veias...
Como liga que não te deixa escapar.
Como um ferido amor antigo que não desfalece. 
Tanto bem para quê, afinal?
Afagar o ego?
Resvalar na irremediável solidão da mais doída forma?
Condenar a alma à perda?
Fores no chão... Tantas, tantas, por um adeus?
Dessa vez não.
Por deus não permita!
Para que nas noites frias, de abraços desconhecidos e alternados;
De cores e corpos que você conhece a tão pouco tempo...
Eu não tenha que invadir você...
Seus sonhos, suas insônias...Seus pulmões sim!
Seus  indignos porquês!
Por que se eu for gritar nos seus ouvidos
Ai meu bem, eu duvido
Que torne a esquecer do que era vivo e morreu.
Do jogo de cartas marcadas, tão seu.
Saia agora sem olhar pra trás
Sem pedir pra voltar...
Você e as jogadas previamente ensaiadas para perder...
Não se implora para ressuscitar
Aquilo que um dia pediu para morrer. 

Jacqueline Lemos
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 *** Se você chegou até aqui, gostou mesmo.Comente,eu em muito aprecio a opinião dos que me leem***


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A TERRA DOS SONHOS PERDIDOS - A SAGA.


A terra dos sonhos Perdidos

Capítulo I
"in memoriam"

  


         Os ruídos me ensurdeciam cada vez mais. Senti o corpo cair, mas não sei dizer se senti dor. Talvez sim, talvez não. Tudo era muito confuso e, sinceramente, isso nem importava tanto.  Era como se eu estivesse indo para muito longe... Buscar algo que... Não saberia dizer por que, mas abandonei.

 Enquanto a visão embranquecia e eu parecia me aproximar, crescia o medo, o barulho, e a certeza de que talvez eu não devesse continuar. Ainda assim o corpo ia, cada vez mais rápido, até que algo aconteceu. Lembro de ouvir vozes, lembro de uma voz amiga e conhecida, lembro de ouvir meu nome e, à medida que ele era entoado, cada vez mais forte,  eu voltava um passo de tudo que eu já tinha caminhado.

Lembro de sentir um forte impulso como se tivesse sido jogada de volta e ao abrir os olhos o sol me cegava.

Não saberia responder o que havia acontecido então não me fiz perguntas. Algumas horas depois ou nenhuma e eu estava nos braços de um senhor sendo socorrida. Não me lembrei de perguntar seu nome ou mesmo agradecer, não o reconheceria se o visse outra vez. Nem ele, nem todos aqueles olhares assustados, curiosos que me acompanharam até eu tomar conta dos próprios passos.
Demorei em assimilar tudo àquilo como um mero desmaio. Tudo não passara de um mal estar que me fizera perder os sentidos. Uma avaliação médica lembrou-me de como eu havia me alimentado mal durantes os últimos dias... Depois de rir-me com conselhos sobre anorexia e outras doenças relacionadas com "regimes de beleza" caminhei até minha casa. Passei por ruas e pensamentos que ainda não tinha experimentado como se no fundo parte de mim estivesse ainda adormecida. "Quem dera tudo aquilo fosse fruto de um regime tolo", pensei.

          Quando me dei conta já era noite. Duas e pouco da madrugada e só então percebi que fui deixada só. Quis chorar, é verdade! Quis correr e corri o mais rápido que pude e, finalmente, ao alcançá-lo já quase sem fôlego quis gritar e gritei e ai sim, o vi voltar relutante alguns de seus passos agora em minha direção. Ele tinha um olhar que recriminava sem qualquer piedade como quem reclamava por eu ter tido coragem. Por eu ter cortado a noite de pés descalços e ido até lá fazer o que devia ser feito... 

"Vá para casa... vá para casa...” ele dizia Mas afinal onde eu morava? E por que ir sozinha?

Então caminhei devagar, desolada, passos lentos sendo sufocada pelo frio da noite. Sufocada pelo peso de passos que não sabiam mais para onde ia. Pela escolha de voltar. Por não ter para onde ir. Pelo medo de um caminho inteiro de volta.  
Lembro de chegar. Debruçada sobre a cama finalmente chorei.  Copiosamente eu chorei. Agora ali, Na duvida do caminho de volta e na incerteza de realmente ter saído dali por em algum momento, o cansaço a angustia, essas duvidas... Esses três pontos...  (Esses remédios cada vez mais fortes e inúteis! ) Encolhi meu corpo, para disfarçar a dor que senti.  Eu dormi sem saber se em algum momento havia mesmo acordado.

         Depois disso lembro de ter apenas nove ou dez anos, lembro-me de alguém. Lembro de ter esquecido parte de mim, e sim, eu lembro disso! Estar perdida em meio a temores que ninguém quis explicar. Lembrar de omitir páginas de uma  vida inteira e reescrevê-las em poemas... sempre vou lembrar disso. E Você,O que você acha que está lendo se não isso?  Confissão em prosaica poesia!

 Lembrodo tempo passando. lembro de abraços e laços que se perderam no vão das minhas lembranças. Lembro de sonhos meus, lembro de sonhos seus, e lembro-me sim de máscaras, muitas delas... Sustentando meus passos...
 Lembro de castelos e torres e maçãs envenenadas. Sapatinhos de cristal que eu jamais poderia calçar, ainda que presenteada com muitos deles.

Lembro de veneno nas mãos, nas palavras e nos meus olhares.Lembro-me de veneno em meu silêncio. Lembro de... Oh Deus, eu lembro disso! A ânsia de desvendar o silêncio alheio.

E de repente era dia.  Lembro de ter crido em dias melhores e ter morrido muitas vezes e ter errado também. Lembro de errar sempre.

Lembro das feridas que causei. Dos lábios que beijei.  De acertos que fugiram à memória. Lembranças de uma história que... não. Nunca hei de estar bem certa de que aconteceu e  quantas vezes, quem bem souber não confie na memória pois não há no mundo dor maior que a de uma lembrança que renega o ostracismo.

Por isso eu morri e por isso você vai morrer também... Por que não há memória que sustente a efemeridade de ser.

Poderia ser você, mas sou eu. Já pensou nisso? Sim eu sei que isso aconteceu. E você o que pode saber para julgar?

O que eu sei é que àquela altura o sol invadia o quarto pelas brechas da janela sempre trancada. Já era dia e eu acabara de acordar de mais um pesadelo.

Pesadelos cada vez mais frequentes nos últimos dias. Sonhos empenhados em me tomar o vigor, a noite e a FOME...
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A terra dos sonhos Perdidos 
Capítulo II
"18"
Passaram-se apenas alguns meses...
Tenho a sensação de que vivi anos! O pior de tudo é o passar das datas, o contar dos dias... Dias vividos que correm cada vez mais e distantes.


O meu olhar já não é mais o mesmo, meu rosto traz suas primeiras marcas e as esperanças que eu tinha esmoreceram.
 
Os seres humanos me decepcionaram claro por que são humanos. Os contos de fada me decepcionaram, claro, são só contos... Eu me decepcionei! Pensei ser mais forte.

A maturidade que o tempo traz, à força, tem tentado roubar a inocência das minhas últimas ilusões. O mundo não brilha tanto quanto eu pensei que brilhasse; as pessoas nem sempre te abraçam por que te querem perto e o amor...

Todavia, nem sempre foi assim... Houve um tempo em que acreditei! Houve um tempo em que quis voar! Um tempo em que nem tudo ao redor parecia tão frio...


Mas de tanto me debater, acabei quebrando uma das minhas asas, e isso, enquanto o espelho gritava que o tempo de esperar pelo "final feliz" tinha acabado.


Eu não pude fazer nada, a não ser entender que, pior do que o inverno... É dedicar amor a um coração frio, que sempre se cala e encontrei tantos assim pelo caminho que acredito ter deixado algo esfriar também.
O silêncio é uma escola.

Aprendi sobre o preço que se paga por crer em mudanças... Eu pensei que ia mudar o mundo! O mundo de cada ser! Mas eu, por quê? Alguém muda quando quer mudar! 

"Somente o amor faz nascer a mudança, e somente nela é consagrado." 

Mas se ele não existe, é tolice tentar... Ou esperar por ele... De que serve fechar os olhos quando se está em meio à escuridão? Assim também, não se ama sozinho, se não a própria dor desta escolha infeliz... 

Aprendi que utopias de uns não movem mentes de outros e que bondade não vende.

Aprendi que pessoas como eu, sofreram quase sempre, por conta da estranha mania que têm, de olhar o mundo pelo lado de dentro... Afinal, ver além das entrelinhas é quase um privilégio, mas nem de longe duvide da dor que isso pode causar... 

Aprendi que nadar contra a corrente pode até parecer glorioso, mas vai "te afogar" no final! 

Olhar para os lados hoje é contradizer tudo aquilo em que acredito... (e ainda reclamam quando me surpreendem perdida aqui dentro...) a verdade é que Dói! Dói vê-se obrigado a renunciar uma parte de se mesmo para ceder às vontades alheias!


E Atire a primeira pedra aquele que já não o tenha feito...

Tenho visto tantos olhares vazios, com medo de voar... Uns se apegam a sua capa religiosa, (não estou falando de Deus! Não... Falo de constituições cegas, entupidas de tantos interesses mundanos, tantos dedos humanos... Tanto pó!)


Outros ainda esquematizam quem e como vão derrubar para que não caiam, e pior, pensam que assim mantém os pés no chão! A verdade que seus pés estão um palmo atravessados na lama e ninguém se dá conta.


Voar é arriscado... Melhor estar então, apegado à ridícula ideia de comodismo? A verdade é que por mais que eu tente, tem sempre aqueles dias em que o ego, ferido, diz:


 "Ter vontade de gritar é bom... gritar então alimenta a alma... Mas se ninguém te ouve, quem não cansa?"


Com o tempo, a própria consciência passa a zombar dos teus anseios. 

O fato é que muitas asas hoje são carregadas como fardo, atrofiaram.

Os grandes filósofos morreram a nova geração já não questiona...

Perde-se antes de se encontrar, esquece que pode voar resguardada a lucidez. 

Maturidade tornou-se sinônimo de estagnar, pagar as contas, cuidar dos filhos, esquecer-se de pensar! Viver por viver... Não ter mais com o que sonhar ou pelo que lutar.


 (Daí reclamam quando eu não quero crescer, quando imploro para ficar!) o mundo parece entregue as mazelas...

 Estamos todos estamos doentes.
E por mais que se pense em lutar
no fim das contas vão dizer:

“Gritar não basta, sonhar não resolve, voar sozinho não vale a pena”... por que nesse mundo - mártir ou vagabundo - só se é bom quando morre!"
Jacqueline Lemos

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 *** Se você chegou até aqui, gostou mesmo.Comente,eu em muito aprecio a opinião dos que me leem***