O Grito de Juliana
A vi gritar com o frisson
De um mal me quer
O mundo ao qual pertencia
Qual cor, qual timbre teria?
O homem que a observava,
Seria o seu marido,
Seria agonia?
A dor daquela mulher
Expressão no silêncio,
Um pulsar na prisão...
De um corpo que fala de si
Num mundo de ingratidão.
O velho que velho não é,
Aquele que não ouve a dor
De um sonho onde a solidão tem cor
Que é bela e não atinge ninguém!
Aquela mulher que avistei
Calou-me sem nada dizer...
Fez-me escutar mais de mim,
Fez-me entender de você.
Que os corpos que têm imperfeição
São poderes que os fazem perfeitos!
Que o mundo deve saber mais de si
Que o homem tem muito a dizer...
Mãos que choram,
Olhos que leem...
No lamento de uma muda canção
Correu a lágrima sem som para cair,
E olhando para aquelas mãos
Chorei por quem nunca ouvi.
Jacqueline Lemos
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A Outra
A espera e o espelho a consolam
Duas facas apontadas pra garganta
Nas lacunas que agora a consomem
A escolha de um caminho sem volta.
Violar-se por pecados de outrem
Permitir que sua fera a possua
É matar pelas mãos do próprio homem
Na razão, o direito à própria sombra.
Se mais tarde eu não tiver conseguido
As respostas que a loucura requereu
Por sinais de assombros nus em meus ouvidos
Saberei que a culpada fui eu
Ao buscar inspiração que valha o medo
Corrompi antes a poesia primeira
E a julgar pelas noites de insônia
Somos duas sofrendo em segredo.
Jacqueline
Lemos
VENCIDA
Essa sede rala na alma
De tempos outrora vividos
De um lamento que não fora ouvido
De um sustento que não sucedeu
Por agora o quando é comigo
Por amigos que eu não pude ter
Por migalhas de amor o castigo
De ao todo nunca pertencer.
Jacqueline Lemos
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É Dose!
Não dá pra agradar
todo mundo...
há momentos que mesmo ninguém!
Para mundo que eu vou descer
A minha com gelo, sou filha também.
há momentos que mesmo ninguém!
Para mundo que eu vou descer
A minha com gelo, sou filha também.
Jacqueline Lemos.
(por ela mesma)
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Quando o tempo
atravessou a rua
Quando ele
veio foi com o frescor de um tempo em que o medo não existia. Ao olhar para o
outro lado tive a impressão de que já nada havia nem a rua nem o tempo. Numa
fração de segundos, divaguei numa vida que se um dia existiu restou pálida na
moldura do passado, portas que depois de um tempo ninguém quer abrir... chaves
que hão de consumir-se de tempos em tempos e em expectativas; caminhos que por
qualquer razão se bifurcam, é verdade.
Naquele
tempo tudo era novo, era esperar as 18:00 e de novo estar ali, um grupo de
jovens a descobrir a cidade; a nossa volta violões, promessas e dúvidas. Cada
um para o seu lado dessa vez. Há quanto tempo?
Quando o tempo atravessou a rua algo de minh’alma
louca, crua e incontida atropelou uma vida inteira como um grito de carnaval
que tivera se desprendeu...
Correu solta a lembrança dos dias incompreendidos, dias de revolução. Inexatos corações tentando entender um mundo sem qualquer esforço em serem entendidos, sem nunca ter tempo e ter o tempo todo do mundo. Jovens reunidos na desilusão. Era o velho um mundo novo, um sonho louco, Recordação! “Contos de outro lar quebrado” Jesus nos subúrbios como dizia a canção.
Correu solta a lembrança dos dias incompreendidos, dias de revolução. Inexatos corações tentando entender um mundo sem qualquer esforço em serem entendidos, sem nunca ter tempo e ter o tempo todo do mundo. Jovens reunidos na desilusão. Era o velho um mundo novo, um sonho louco, Recordação! “Contos de outro lar quebrado” Jesus nos subúrbios como dizia a canção.
Quando o seu despretensioso sorriso, o sorriso dos
desajeitados encontros, a tenção das primeiras e vans tentações, os jogos de
vídeo Game nas tardes de domingo,o mesmo de... “oh, faziam já quinze anos”
pensei.
Quando em passos largos o vi seguir em minha direção,
um velho tom vagou na mente, de repente os mesmos sons e anos atrás ali,
frente-a-frente, faltando para o perto apenas o mesmo lado, me eximí de pensar que uma avenida entre presente e
passado é algo longo demais para que se possa atravessar.
Quando aquele sorriso tornou a cruzar o meu caminho,
não foram as cores ou formas, não foi a fé nem dela seria preciso, Era só...
Era como se... Foi um caminhão que tombou no meu caminho. Quando o vi, não por
ele, mas por mim... Era o tempo. Era algo sobre os caminhos para ser, por que
ninguém deve dar adeus a si mesmo.
“Quanto tempo” – Ele disse;
“Ah, quanto tempo” – Pensei.
Jacqueline
Lemos
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