ÁGATA
O silencio de uma
alma, quanto vale?
Suas neuroses, seus
temores... Eles valem?
Seu encanto deturpado,
seu corpo fecundo, assombrado...
Ágata, isso vale?
Seu jeito torpe de
dizer: nunca se cale!
E Ágata agora não
fala?...
Não Ágata, não fale!
Eles podem te ouvir...
Ágata correu meio mundo
e não chegou a lugar algum!
Cansou da injustiça,
causou desumanidades.
E agora é Ágata quem cansada
já não diz, ela se cala.
E implora para que
não a falem,
Reza para que ninguém
a reconheça...
“Quem está falando?”
Não Ágata...
Não fale!
Ágata agora é produto
do meio
Produto dos termos
Produto das sobras
Ágata é o resultado
das rachaduras, das arestas, das lacunas...
Ágata é a resposta do
não dito, do que ficou por dizer...
Ágata é o grito que o
desprezo sufocou
E isso ninguém nunca
disse.
Ágata agora não
dorme...
Ágata não durma!
Eles podem te encontrar...
Ágata está podre.
Ágata está pobre.
Matem-na.
Ágata passou a vida
inteira sendo iludida de que
O todo a pertencia...
Mas no fim era
sempre: dê à Ágata as sobras!
E ela sabia...
Não ouve pudor algum
empenhado em não deixá-la saber...
E assim, Ágata
descontente,
Crendo que a contento
um tanto mais merecia,
Foi sozinha atrás de
um todo seu...
Mas Ágata correu meio
mundo e permaneceu só
Como um feto que fora
rasgado de uma barriga.
Ágata não chore, não fale, não durma!
Ágata não sonha mais
com um lugar que lhe pertença...
Ou um coração que lhe
acolha...
Um perdão que lhe
resgate...
Ágata não dorme,
Nem quer salvar-se.
Ágata não durma!
Ágata hoje apenas
espera...
Espera o dia em que
Tudo caiará por terra
Inclusive ela
Fadada à queda.
Ágata hoje espera
Que os seus pesadelos
um dia durmam.
Ágata errou como
todos!
Mas que ela lembre
esse direito nunca lhe foi dado...
Ágata pagou por
pecados que nem lhe pertenciam,
Mas disso ninguém vai
lembrar...
Ágata não corra!
Mas ela não vê que é
inútil...
Enxergar não consegue,
Pois as lagrimas
encharcam os seus olhos pequenos...
Ela não vê que essas
lágrimas secam com o vento
Antes mesmo de
alcançar o resto da face...
Lágrimas inúteis as
dela!
Nunca chegarão ao
coração de Ágata, este que está em brasas
E em pedaços...
Ágata é uma porção de
cacos agora.
Ágata corre sem se
dar conta do abismo que a espera!
Ágata não chore, não fale, não durma!
Eles podem...
Você não.
Ágata não corra!
Não, não Ágata, não vá por ai!
Ágata pare!
Ninguém a salvará...
Mas é tarde,
Ágata está só.
Ágata está longe
demais...
Ágata está podre.
Está nua.
É tarde...
Ágata está morta.
Jacqueline Lemos.
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Infértil
A tua
negligencia no passado custou-me muito mais caro que o teu desprezo hoje, por
isso mesmo, não o temo... Nada do que me fizer agora poderá ser pior do que as
conseqüências com as quais eu tive de arcar em virtude de tua maldita escolha
de ignorar o obvio e nada fazer quando deveria ter feito.
Não são as
tuas sandices de hoje, os jogos de disputas e horrores que tentas comigo
travar, não! Não serão estas coisas que hoje, já tão calejada e ciente de quem
tu és e do que sou para ti, que hão de ferir-me.
Perdes ao teu
tempo ao pensar que é a tua presença que temo... pois que, confortavelmente
esqueces de que fora na tua ausência anunciada que eu conheci as verdades sobre
a dor, o desprezo e o medo! E mal sabes que fora também através dela que eu
aprendi a não precisar de ti.
Cessa de uma vez
o teu esforço, posto que é em vão! Tu confiaste
apenas em tua pontaria, e nada fizeste para aprimorar-se... Eu senti o pesar dos primeiros
tiros e aprendi a esquivar-me.
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Alma Lavada.
Eu me perdi...
Nos sonhos, nos passos, nas quedas...
Nas escolhas que fiz!
Nas que deixei de fazer...
Nas tantas coisas lá atrás...
Neste ser infeliz!
Sim, eu me perdi
Como era pra ser.
Vi-me perdida em meio aquilo que mais temia,
Mãos atadas, olhos rasos, fugir de quê?
Acordei de um pesadelo e qual não foi minha agonia,
Estava dentro de mim mesma
E assim sendo,
quem me salvaria?
E ser salva por quê?
Algo ali seguramente garantia
Que tinha a alma fadada...
Que dali para frente jamais dormiria!
Estava presa ao pesadelo de se estar acordada!
E isso dói tanto!...
O que acontece a uma alma que esfria?
Eu era a minha presa agora,
Vagando entre os sussurros, as lágrimas, a escória...
E por mais que quisesse ir embora,
Sim, por que eu quis!
Tinha os joelhos feridos,
Os calcanhares roídos,
Os olhos vendados!
Querer é tão pouco.
E no mais, Aquela era a minha história
O sangue fora jorrado
E nada do mundo mudaria o futuro que me dei
O presente que amarguei
Nada mudaria o meu passado...
Eu quis ir embora aos gritos!
Mas dei com a cara nos portões selados
Não, eu não possuía as chaves...
Eu não as havia escrito
Dentre tantos contos...
Grande final havia me dado!
Eu que tanto ansiei a revanche
Já não possuía os dados...
Tampouco adiantava jogar,
Aquilo doía por que era real!
Já não importando os lados
Ou quais planos
eu tivesse
Eu que já nem os tinha...
Perdi-me nos sons dos próprios gritos!
Gritos que já nem eu poderia ouvir...
E gritar para quê?
Se ninguém me ouvia?
Se a própria alma havia ensurdecido?
Se ao invés de lutar,
Preferi a sangria?
Se a minha fé tinha morrido,
E eu matado?
Caminhar...
Caminhar para onde?
Se aquela terra eu não conhecia,
Mesmo a tendo cunhado?
Qualquer caminho ali daria para lugar nenhum...
Como sempre havia dado
Não havia o que ou quem encontrar...
Eu estava sozinha!
Estava só e
Pela primeira vez aquilo me havia assustado.
Não havia algoz,
Não havia vítima,
Sobretudo, quaisquer justificativas...
Tudo que encontrei foram cacos.
Cacos que refletiam uma face disforme,
Alguém que eu não conhecia
Que nunca quis ser...
Mas que para sempre seria a partir dali.
Um ser que jamais dormiria
Que traria para sempre nas mãos o seu pesar...
Um ser que estando vivo, mórbido jazeria!
Alguém sabe, de verdade, o que é não poder acordar?
E o que então eu me diria àquela hora,
Se também na imagem refletida
Pude enxergar um punhal sedento,
Ferozmente entrelaçado em minhas mãos?
O que eu me diria ao dar-me conta
De que daquela vez
Eram elas, as minhas mãos,
Que apunhalavam a minha alma?
Como entender que as mãos agora eram as minhas,
Eu sempre tão acostumada às mãos alheias,
E a idéia de culpá-las?
Meu corpo sangrava um sangue novo
Mas aquele sangue não era o meu
Algo bom de mim estava indo embora
Por que corri tanto, meu Deus?
Só para chegar à beira de um mar que – eu sabia –
Jamais poderia atravessar.
E cuja água límpida, translúcida,
Ainda assim que me convidada...
De certo senti que não devesse ir,
Mas, o meu destino era a carne podre,
A áurea fétida,
As unhas grossas
A consciência nua
Envergonhada
A alma louca
Crua
Condenada...
Ágata, Por que não?
E fui.
Sustentando ainda um suspiro qualquer,
Aquém àquela situação...
Que me desse tempo de ver a água enrubescer, sangrar...
Eles gritavam o meu nome,
Mas quem é Ágata,
Que eu não sei?
O meu mar era de rosas...
Mas foi nele que me afoguei.
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Jacqueline Lemos
*** Se você chegou até aqui, gostou mesmo.Comente,eu em muito aprecio a opinião dos que me leem***
Gostei muito do II. Forte e preciso. Beijos!
ResponderExcluiros outros dois estão enciumados... kkk
ExcluirUma forma poética de ser curar e curar aos outros.
ResponderExcluirMarilyn Manson - Sweet Dreams, arrasou loira, parabéns pelos textos. Perfects!
ResponderExcluirposto sempre as musicas que escutei enquanto escrevia os textos... para que os leitores dêem play antes de lê-los.
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