Confidentes

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A TERRA DOS SONHOS PERDIDOS - A SAGA.


A terra dos sonhos Perdidos

Capítulo I
"in memoriam"

  


         Os ruídos me ensurdeciam cada vez mais. Senti o corpo cair, mas não sei dizer se senti dor. Talvez sim, talvez não. Tudo era muito confuso e, sinceramente, isso nem importava tanto.  Era como se eu estivesse indo para muito longe... Buscar algo que... Não saberia dizer por que, mas abandonei.

 Enquanto a visão embranquecia e eu parecia me aproximar, crescia o medo, o barulho, e a certeza de que talvez eu não devesse continuar. Ainda assim o corpo ia, cada vez mais rápido, até que algo aconteceu. Lembro de ouvir vozes, lembro de uma voz amiga e conhecida, lembro de ouvir meu nome e, à medida que ele era entoado, cada vez mais forte,  eu voltava um passo de tudo que eu já tinha caminhado.

Lembro de sentir um forte impulso como se tivesse sido jogada de volta e ao abrir os olhos o sol me cegava.

Não saberia responder o que havia acontecido então não me fiz perguntas. Algumas horas depois ou nenhuma e eu estava nos braços de um senhor sendo socorrida. Não me lembrei de perguntar seu nome ou mesmo agradecer, não o reconheceria se o visse outra vez. Nem ele, nem todos aqueles olhares assustados, curiosos que me acompanharam até eu tomar conta dos próprios passos.
Demorei em assimilar tudo àquilo como um mero desmaio. Tudo não passara de um mal estar que me fizera perder os sentidos. Uma avaliação médica lembrou-me de como eu havia me alimentado mal durantes os últimos dias... Depois de rir-me com conselhos sobre anorexia e outras doenças relacionadas com "regimes de beleza" caminhei até minha casa. Passei por ruas e pensamentos que ainda não tinha experimentado como se no fundo parte de mim estivesse ainda adormecida. "Quem dera tudo aquilo fosse fruto de um regime tolo", pensei.

          Quando me dei conta já era noite. Duas e pouco da madrugada e só então percebi que fui deixada só. Quis chorar, é verdade! Quis correr e corri o mais rápido que pude e, finalmente, ao alcançá-lo já quase sem fôlego quis gritar e gritei e ai sim, o vi voltar relutante alguns de seus passos agora em minha direção. Ele tinha um olhar que recriminava sem qualquer piedade como quem reclamava por eu ter tido coragem. Por eu ter cortado a noite de pés descalços e ido até lá fazer o que devia ser feito... 

"Vá para casa... vá para casa...” ele dizia Mas afinal onde eu morava? E por que ir sozinha?

Então caminhei devagar, desolada, passos lentos sendo sufocada pelo frio da noite. Sufocada pelo peso de passos que não sabiam mais para onde ia. Pela escolha de voltar. Por não ter para onde ir. Pelo medo de um caminho inteiro de volta.  
Lembro de chegar. Debruçada sobre a cama finalmente chorei.  Copiosamente eu chorei. Agora ali, Na duvida do caminho de volta e na incerteza de realmente ter saído dali por em algum momento, o cansaço a angustia, essas duvidas... Esses três pontos...  (Esses remédios cada vez mais fortes e inúteis! ) Encolhi meu corpo, para disfarçar a dor que senti.  Eu dormi sem saber se em algum momento havia mesmo acordado.

         Depois disso lembro de ter apenas nove ou dez anos, lembro-me de alguém. Lembro de ter esquecido parte de mim, e sim, eu lembro disso! Estar perdida em meio a temores que ninguém quis explicar. Lembrar de omitir páginas de uma  vida inteira e reescrevê-las em poemas... sempre vou lembrar disso. E Você,O que você acha que está lendo se não isso?  Confissão em prosaica poesia!

 Lembrodo tempo passando. lembro de abraços e laços que se perderam no vão das minhas lembranças. Lembro de sonhos meus, lembro de sonhos seus, e lembro-me sim de máscaras, muitas delas... Sustentando meus passos...
 Lembro de castelos e torres e maçãs envenenadas. Sapatinhos de cristal que eu jamais poderia calçar, ainda que presenteada com muitos deles.

Lembro de veneno nas mãos, nas palavras e nos meus olhares.Lembro-me de veneno em meu silêncio. Lembro de... Oh Deus, eu lembro disso! A ânsia de desvendar o silêncio alheio.

E de repente era dia.  Lembro de ter crido em dias melhores e ter morrido muitas vezes e ter errado também. Lembro de errar sempre.

Lembro das feridas que causei. Dos lábios que beijei.  De acertos que fugiram à memória. Lembranças de uma história que... não. Nunca hei de estar bem certa de que aconteceu e  quantas vezes, quem bem souber não confie na memória pois não há no mundo dor maior que a de uma lembrança que renega o ostracismo.

Por isso eu morri e por isso você vai morrer também... Por que não há memória que sustente a efemeridade de ser.

Poderia ser você, mas sou eu. Já pensou nisso? Sim eu sei que isso aconteceu. E você o que pode saber para julgar?

O que eu sei é que àquela altura o sol invadia o quarto pelas brechas da janela sempre trancada. Já era dia e eu acabara de acordar de mais um pesadelo.

Pesadelos cada vez mais frequentes nos últimos dias. Sonhos empenhados em me tomar o vigor, a noite e a FOME...
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A terra dos sonhos Perdidos 
Capítulo II
"18"
Passaram-se apenas alguns meses...
Tenho a sensação de que vivi anos! O pior de tudo é o passar das datas, o contar dos dias... Dias vividos que correm cada vez mais e distantes.


O meu olhar já não é mais o mesmo, meu rosto traz suas primeiras marcas e as esperanças que eu tinha esmoreceram.
 
Os seres humanos me decepcionaram claro por que são humanos. Os contos de fada me decepcionaram, claro, são só contos... Eu me decepcionei! Pensei ser mais forte.

A maturidade que o tempo traz, à força, tem tentado roubar a inocência das minhas últimas ilusões. O mundo não brilha tanto quanto eu pensei que brilhasse; as pessoas nem sempre te abraçam por que te querem perto e o amor...

Todavia, nem sempre foi assim... Houve um tempo em que acreditei! Houve um tempo em que quis voar! Um tempo em que nem tudo ao redor parecia tão frio...


Mas de tanto me debater, acabei quebrando uma das minhas asas, e isso, enquanto o espelho gritava que o tempo de esperar pelo "final feliz" tinha acabado.


Eu não pude fazer nada, a não ser entender que, pior do que o inverno... É dedicar amor a um coração frio, que sempre se cala e encontrei tantos assim pelo caminho que acredito ter deixado algo esfriar também.
O silêncio é uma escola.

Aprendi sobre o preço que se paga por crer em mudanças... Eu pensei que ia mudar o mundo! O mundo de cada ser! Mas eu, por quê? Alguém muda quando quer mudar! 

"Somente o amor faz nascer a mudança, e somente nela é consagrado." 

Mas se ele não existe, é tolice tentar... Ou esperar por ele... De que serve fechar os olhos quando se está em meio à escuridão? Assim também, não se ama sozinho, se não a própria dor desta escolha infeliz... 

Aprendi que utopias de uns não movem mentes de outros e que bondade não vende.

Aprendi que pessoas como eu, sofreram quase sempre, por conta da estranha mania que têm, de olhar o mundo pelo lado de dentro... Afinal, ver além das entrelinhas é quase um privilégio, mas nem de longe duvide da dor que isso pode causar... 

Aprendi que nadar contra a corrente pode até parecer glorioso, mas vai "te afogar" no final! 

Olhar para os lados hoje é contradizer tudo aquilo em que acredito... (e ainda reclamam quando me surpreendem perdida aqui dentro...) a verdade é que Dói! Dói vê-se obrigado a renunciar uma parte de se mesmo para ceder às vontades alheias!


E Atire a primeira pedra aquele que já não o tenha feito...

Tenho visto tantos olhares vazios, com medo de voar... Uns se apegam a sua capa religiosa, (não estou falando de Deus! Não... Falo de constituições cegas, entupidas de tantos interesses mundanos, tantos dedos humanos... Tanto pó!)


Outros ainda esquematizam quem e como vão derrubar para que não caiam, e pior, pensam que assim mantém os pés no chão! A verdade que seus pés estão um palmo atravessados na lama e ninguém se dá conta.


Voar é arriscado... Melhor estar então, apegado à ridícula ideia de comodismo? A verdade é que por mais que eu tente, tem sempre aqueles dias em que o ego, ferido, diz:


 "Ter vontade de gritar é bom... gritar então alimenta a alma... Mas se ninguém te ouve, quem não cansa?"


Com o tempo, a própria consciência passa a zombar dos teus anseios. 

O fato é que muitas asas hoje são carregadas como fardo, atrofiaram.

Os grandes filósofos morreram a nova geração já não questiona...

Perde-se antes de se encontrar, esquece que pode voar resguardada a lucidez. 

Maturidade tornou-se sinônimo de estagnar, pagar as contas, cuidar dos filhos, esquecer-se de pensar! Viver por viver... Não ter mais com o que sonhar ou pelo que lutar.


 (Daí reclamam quando eu não quero crescer, quando imploro para ficar!) o mundo parece entregue as mazelas...

 Estamos todos estamos doentes.
E por mais que se pense em lutar
no fim das contas vão dizer:

“Gritar não basta, sonhar não resolve, voar sozinho não vale a pena”... por que nesse mundo - mártir ou vagabundo - só se é bom quando morre!"
Jacqueline Lemos

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 *** Se você chegou até aqui, gostou mesmo.Comente,eu em muito aprecio a opinião dos que me leem***

2 comentários:

  1. Jacque gosto de seus textos e principalmente de suas seleções musicais, hoje mesmo, estava ouvindo essa última do bana Fun. "Where Are Young", que fala de aproveitarmos o dia e a juventude mesma a interior o máximo possível, percebi que transpareceu bem nesse último texto. Parabéns!

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