Confidentes

domingo, 9 de dezembro de 2012

A Última Carta



O dia hoje amanheceu ensaiando uma manhã de chuva que não vai acontecer...


Ultimamente tem sido assim... O frio chega logo cedo e vem perturbar o que demorei tanto para deixar quieto. E antes, muito antes que eu possa perceber ou relutar já estou tomada por um turbilhão de pensamentos, lembranças, palavras e datas... Coisas que o meu agradável estado de sonolência não me deixa controlar. (não que eu queira fazê-lo, na verdade...) Também pudera, ainda não são nem 6:00hs!

            Não demora e as imagens vão se refazendo... As cenas, as sensações, os detalhes fieis... O gosto, o rosto, o resto... Eis que se abrem as cortinas e para a minha surpresa (ou não) o espetáculo é a nossa história...

Tudo tão confuso, tão rápido, tão longe... Tantas lágrimas e sorrisos compartilhando a mesma história, a história de um livro velho e tão maltratado, que sem nenhuma piedade, jaz agora abandonado numa estante. Um livro cujas últimas páginas são apenas folhas em branco, folhas que foram tocadas, reviradas, sonhadas e desistidas, mas nunca arrancadas de uma vez! O que torna tudo muito pior! Por que assim, é como se... E não será. Em que momento lhe pareceu que isso daria certo?

            Só ai eu entendo o frio é aqui dentro... E na verdade, não é frio é Saudade.

Prontamente ignoro. Levanto-me, molho o rosto e vejo refletida no espelho, uma imagem que me recrimina! Olha-me como se quisesse dizer: “O que pensa que está fazendo?”.  Começar o dia mais cedo me dará mais tempo...

Vou caminhando em meio à garoa fina. Interessante mesmo sou eu não saber o que fazer com tanto tempo agora. De fato o tempo parece tornar-se imenso quando os planos são desfeitos.  As casas dormem, as ruas estão vazias, parece que hoje é o sol que não quer acordar. Posso ouvir os meus passos distraídos, os poucos ruídos da manhã, mas, ainda que me esforce não encontro a sua voz.

            Às vezes é difícil acreditar que acabou... Ainda mais difícil crer que aconteceu.

Passamos por tanta coisa juntos! E por ventura tantas outras, separados. Por tantas vezes estivemos tão perto de iniciarmos algo e antes disso terminamos tantas outras, como um ato que terminou sem nunca ter começado.
            
             É... O tempo passou mesmo! E a necessidade de estarmos cada vez mais longe um do outro fora tão grande que nem parece ter sido realmente doloroso para nenhum dos dois ter de deixar para trás aquilo que nos juntou. E como é justamente essa a arte do teatro, fazer parecer, sei que damos conta! Como naquela canção, você lembra? “...We used to think it was impossible. Now you call me by my new last name... I know we're cool”. Eu sei que daremos conta. Por isso mesmo essa é a última carta. Nosso último novembro de palavras.
            Mas não. Por favor, não. Isso não quer dizer que não vai doer. De um modo geral, planos rompidos doem mesmo... E depois, saber que temos tão pouca coisa boa para lembrar, saber que perdemos tanto tempo nos arriscando... Não, não tinha mesmo como ser fácil depois de tanto amor empregado. Dói ver que tivemos tanto medo. Que perdemos tanto! Dói ver que o tempo não volta atrás, que outro tempo não vem... Que omitir será sempre mais fácil que lutar, mas lidaremos com o inexorável fato de que foi exatamente essa a escolha, portanto sigamos.  


Dói. É verdade... Mas essa não é uma dor insuportável. Com o tempo até é possível acostumar-se com ela e, com esforço, deixar de percebê-la. Mas como ela pode saber disso? Você irá pensar (sempre tão previsível)... Bem, devo dizer que esta não foi a minha primeira tentativa e embora eu a tivesse querido como a única, não há de ser a última também... Por que eu acredito que o coração humano foi feito para tais sentimentos e ensaios e, portanto, resta-nos pô-lo em exercício. Por que eu não deixaria de crer em mim por ninguém, você sabe.

 Na melhor das hipóteses, há de nos restar também isso, alguma poesia, duas páginas e uma boa história.  O que no fim não significa nada também (...) não que eu esteja sendo otimista, não, não é isso. Esquecendo ou não a ferida estará sempre lá sacramentada em alguma daquelas páginas que não mais serão lidas. Que seja. Essa é a história. Por que alguém precisava ter a coragem de rabiscar esta última página e realmente não me incomoda ter sido eu afinal, essa é a minha história também.  

            As pessoas enfim preparam-se para mais um dia, abrem portas e janelas. As crianças vão para a escola, e então eu retorno de minha última postagem... com alguns dos passos mais pesados e mais firmes que já dei e sem  qualquer intenção de olhar para trás. Finalmente.  Hoje são 08 de maio e o dia já pode nascer.
Antes de entrar, diante da porta de casa, (por ironia ou não, a porta de casa) escolho entre todas as máscaras, aquela que aparenta ser a mais tranqüila e reinicio a tão rotineira trajetória no palco da vida, como se nada tivesse acontecido, como se nada tivéssemos vivido, como se a saudade nunca tivesse me tocado... Como se de fato, o tempo tivesse calado a voz daquilo que parecia ser maior que nós e que ainda assim nunca soubemos nos responder o que era. Como se a saudade, essa fera, pudesse ser calada. E negando para mim mesma que bendita seja ela! Que faz ainda tanta diferença... da qual espero sentir falta daqui mais um tempo...
Uma saudade que quase é capaz de dar vida a essa tênue lembrança tua, no íntimo abandono de uma alma que já e, ainda tão cedo, senti-se tão cansada... E que vai insistir em dizer quantas vezes forem necessárias soberana, orgulhosa e tão ferida, que no mais... Tudo vai muito bem, Obrigada! Só não torne a me perguntar parecendo dar a isto alguma importância.

 É só saudade... Com a qual já estou acostumada... Não é tão difícil assim algo que repetidas vezes vem e vai embora. É só saudade, apenas isso, mais nada.


Jacqueline Lemos

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