O dia hoje amanheceu ensaiando uma manhã de chuva que não vai acontecer...
Ultimamente tem sido assim... O
frio chega logo cedo e vem perturbar o que demorei tanto para deixar quieto. E
antes, muito antes que eu possa perceber ou relutar já estou tomada por um
turbilhão de pensamentos, lembranças, palavras e datas... Coisas que o meu
agradável estado de sonolência não me deixa controlar. (não que eu queira
fazê-lo, na verdade...) Também pudera, ainda não são nem 6:00hs!
Não demora e as imagens vão se refazendo... As cenas, as sensações, os detalhes
fieis... O gosto, o rosto, o resto... Eis que se abrem as cortinas e para a
minha surpresa (ou não) o espetáculo é a nossa história...
Tudo tão confuso,
tão rápido, tão longe... Tantas lágrimas e sorrisos compartilhando a mesma
história, a história de um livro velho e tão maltratado, que sem nenhuma
piedade, jaz agora abandonado numa estante. Um livro cujas últimas páginas são
apenas folhas em branco, folhas que foram tocadas, reviradas, sonhadas e
desistidas, mas nunca arrancadas de uma vez! O que torna tudo muito pior! Por
que assim, é como se... E não será. Em que momento lhe pareceu que isso
daria certo?
Só ai eu entendo o frio é aqui dentro... E na verdade, não é frio é Saudade.
Prontamente
ignoro. Levanto-me, molho o rosto e vejo refletida no espelho, uma imagem que
me recrimina! Olha-me como se quisesse dizer: “O que pensa que está fazendo?”. Começar o dia mais cedo me dará mais tempo...
Vou caminhando
em meio à garoa fina. Interessante mesmo sou eu não saber o que fazer com tanto
tempo agora. De fato o tempo parece tornar-se imenso quando os planos são
desfeitos. As casas dormem, as ruas
estão vazias, parece que hoje é o sol que não quer acordar. Posso ouvir os meus
passos distraídos, os poucos ruídos da manhã, mas, ainda que me esforce não
encontro a sua voz.
Às vezes é difícil acreditar que acabou... Ainda mais difícil crer que
aconteceu.
Passamos por tanta coisa juntos!
E por ventura tantas outras, separados. Por tantas vezes estivemos tão perto de
iniciarmos algo e antes disso terminamos tantas outras, como um ato que
terminou sem nunca ter começado.
É... O tempo passou mesmo! E a
necessidade de estarmos cada vez mais longe um do outro fora tão grande que nem
parece ter sido realmente doloroso para nenhum dos dois ter de deixar para trás
aquilo que nos juntou. E como é justamente essa a arte do teatro, fazer
parecer, sei que damos conta! Como naquela canção, você lembra? “...We used to think it was impossible. Now you
call me by my new last name... I know we're cool”. Eu sei que daremos
conta. Por isso mesmo essa é a última
carta. Nosso último novembro de palavras.
Mas não. Por favor, não. Isso não quer dizer que não vai doer. De um modo
geral, planos rompidos doem mesmo... E depois, saber que temos tão pouca coisa
boa para lembrar, saber que perdemos tanto tempo nos arriscando... Não, não
tinha mesmo como ser fácil depois de tanto amor empregado. Dói ver que tivemos
tanto medo. Que perdemos tanto! Dói ver que o tempo não volta atrás, que outro
tempo não vem... Que omitir será sempre mais fácil que lutar, mas lidaremos com
o inexorável fato de que foi exatamente essa a escolha, portanto sigamos.
Dói. É
verdade... Mas essa não é uma dor insuportável. Com o tempo até é possível
acostumar-se com ela e, com esforço, deixar de percebê-la. Mas como ela pode saber disso? Você irá pensar (sempre tão previsível)... Bem, devo
dizer que esta não foi a minha primeira tentativa e embora eu a tivesse querido
como a única, não há de ser a última também... Por que eu acredito que o
coração humano foi feito para tais sentimentos e ensaios e, portanto, resta-nos
pô-lo em exercício. Por que eu não deixaria de crer em mim por ninguém, você sabe.
Na melhor das hipóteses, há de nos restar também
isso, alguma poesia, duas páginas e uma boa história. O que no fim não significa nada também (...) não
que eu esteja sendo otimista, não, não é isso. Esquecendo ou não a ferida
estará sempre lá sacramentada em alguma daquelas páginas que não mais serão
lidas. Que seja. Essa é a história. Por que alguém precisava ter a coragem de
rabiscar esta última página e realmente não me incomoda ter sido eu afinal,
essa é a minha história também.
As pessoas enfim preparam-se para mais um dia, abrem portas e janelas. As
crianças vão para a escola, e então eu retorno de minha última postagem... com
alguns dos passos mais pesados e mais firmes que já dei e sem qualquer intenção
de olhar para trás. Finalmente. Hoje são 08 de maio
e o dia já pode nascer.
Antes de
entrar, diante da porta de casa, (por ironia ou não, a porta de casa) escolho
entre todas as máscaras, aquela que aparenta ser a mais tranqüila e reinicio a
tão rotineira trajetória no palco da vida, como se nada tivesse acontecido,
como se nada tivéssemos vivido, como se a saudade nunca tivesse me tocado... Como
se de fato, o tempo tivesse calado a voz daquilo que parecia ser maior que nós
e que ainda assim nunca soubemos nos responder o que era. Como se a saudade, essa
fera, pudesse ser calada. E negando para mim mesma que bendita seja ela! Que
faz ainda tanta diferença... da qual espero sentir falta daqui mais um tempo...
Uma saudade que
quase é capaz de dar vida a essa tênue lembrança tua, no íntimo abandono de uma
alma que já e, ainda tão cedo, senti-se tão cansada... E que vai insistir em
dizer quantas vezes forem necessárias soberana, orgulhosa e tão ferida, que no
mais... Tudo vai muito bem, Obrigada!
Só não torne a me perguntar parecendo dar a isto alguma importância.
É só saudade... Com a qual já estou acostumada...
Não é tão difícil assim algo que repetidas vezes vem e vai embora. É só
saudade, apenas isso, mais nada.
Jacqueline Lemos
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