Confidentes

domingo, 2 de dezembro de 2012

Revelia


Fazer do Teatro um paliativo para as carecias da alma que de quaisquer coisas se agrada é um crime. O Teatro não provém do medo, do tédio, das togas de justificação. Essa arte inconveniente, exasperada, benevolente, violenta e violentada é comum aos desesperadamente apaixonados!  Os inconsequentes enamorados. Os doentes crônicos... Os combatentes patriotas! Palco é guerra meus caros!  Palco é necessidade.

Teatro se faz quando há uma cumplicidade estremada entre o que eu sou e o que eu poderia ser, sem ponderação. A história dos limiares é propriamente uma invenção acadêmica. Não existe linha tênue ou muro confortável. É uma arte pura demais para duvida! É estar ou não.  É Não gastar demasiada atenção para o que sequer teria sido. De um modo geral, é fazer, estar, querer...  Um incondicional estado de alerta.

Teatro é ser ou não ser mesmo sendo. Necessariamente sendo. Ser o Teatro é aproveitar-se acima de tudo.  É perder os sentidos e não o sentido de perder-se para se reencontrar.  Atuar é ficar louco e SARAR todos os dias!  Tornar a mentira uma verdade santa, ser o teatro é fazer de conta fazendo de verdade.

Se o Teatro é também um Lugar de onde se vê...  Observar também é um exercício, dos mais sérios desafios, aliás!  E o exercício está para ser praticado. Focar no outro É dar permissão de que o outro me ensine também, é se permitir e permitir ter com o outro... É humildade, respeito. Apoiar um companheiro de guerra é um acordo secular.  Um extinto também de sobrevivência. O teatro requer que sejamos nobres até para observarmos.  

Quem faz teatro deve enxergar a si mesmo e o outro O TEMPO TODO. A contemplação é estágio de formação.    É conceber e erguer a bandeira da troca, do todo.  Olhos atentos, mentes sadias...  Almas loucas sim, esvaziadas, ansiosas, disponíveis, questionadoras, todos na mesma luta em prol do mesmo trabalho de dar-se para a cena.

A Alma de um bom soldado é cúmplice e muitíssimo integrada, entregue... Lançar-se à guerra é atrever-se a um resultado, necessariamente! Por isso mesmo, gota nenhuma de sangue deve   se derramar sem isso.  Sob pena de revelia. Sob pena de subirem ao palco soldados multilados ou desvalidos. Sob pena de não receber apoio também, e não poder contar com o outro na guerra é suicídio, lembrem-se disso.

O Teatro  deve formigar no olho, ferver no sangue, “feromonizar” no suor.  E não, nunca se está pronto... Teatro é tudo isso e nenhuma conclusão. A perfeição aqui é vazia se não há no peito a chama da ousadia, diria mesmo desnecessária. 

 Como teatro sem ambição?  Praticar a exacerbada falsa modéstia em sua cena é ir pra guerra e não morrer de um tiro, mas sim do seu próprio veneno. 

Abespinharão, é verdade, mas isso é TEATRO! Respeitem, aliás.


Teatro é aprendizado. Resgate. Olhar e admirar-se!  Sempre, de tudo. Desvendar, Abrir os olhos, ouvidos, canais, vielas buracos... Abrir o mundo! Arreganhar-se para ele. Deixar a mostra todos os cantos, manter portas abertas, estar sempre em diálogo.  Teatro é um bonde louco na contramão que precisa passar. Que tem muito a dizer. É um compromisso.  É brincar... Mas de  um jeito muito, muito sério.


Jacqueline Lemos.

Fotos do Espetáculo "Gonzaga e Nazarena" da Cia Etra Eventos que homenageia o Centenário de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião!




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