Fazer do Teatro um paliativo para
as carecias da alma que de quaisquer coisas se agrada é um crime. O Teatro não
provém do medo, do tédio, das togas de justificação. Essa arte inconveniente,
exasperada, benevolente, violenta e violentada é comum aos desesperadamente
apaixonados! Os inconsequentes
enamorados. Os doentes crônicos... Os combatentes patriotas! Palco é guerra
meus caros! Palco é necessidade.
Teatro se faz quando há uma
cumplicidade estremada entre o que eu sou e o que eu poderia ser, sem
ponderação. A história dos limiares é propriamente uma invenção acadêmica. Não
existe linha tênue ou muro confortável. É uma arte pura demais para duvida! É
estar ou não. É Não gastar demasiada
atenção para o que sequer teria sido. De um modo geral, é fazer, estar,
querer... Um incondicional estado de
alerta.
Teatro é ser ou não ser mesmo
sendo. Necessariamente sendo. Ser o Teatro é aproveitar-se acima de tudo. É perder os sentidos e não o sentido de
perder-se para se reencontrar. Atuar é
ficar louco e SARAR todos os dias!
Tornar a mentira uma verdade santa, ser o teatro é fazer de conta
fazendo de verdade.
Se o Teatro é também um Lugar de
onde se vê... Observar também é um
exercício, dos mais sérios desafios, aliás!
E o exercício está para ser praticado. Focar no outro É dar permissão de
que o outro me ensine também, é se permitir e permitir ter com o outro... É
humildade, respeito. Apoiar um companheiro de guerra é um acordo secular. Um extinto também de sobrevivência. O teatro
requer que sejamos nobres até para observarmos.
Quem faz teatro deve enxergar a
si mesmo e o outro O TEMPO TODO. A contemplação é estágio de formação. É conceber e erguer a bandeira da troca, do
todo. Olhos atentos, mentes
sadias... Almas loucas sim, esvaziadas,
ansiosas, disponíveis, questionadoras, todos na mesma luta em prol do mesmo
trabalho de dar-se para a cena.
A Alma de um bom soldado é
cúmplice e muitíssimo integrada, entregue... Lançar-se à guerra é atrever-se a
um resultado, necessariamente! Por isso mesmo, gota nenhuma de sangue deve se derramar sem isso. Sob pena de revelia. Sob pena de subirem ao
palco soldados multilados ou desvalidos. Sob pena de não receber apoio também,
e não poder contar com o outro na guerra é suicídio, lembrem-se disso.
O Teatro deve formigar no olho, ferver no sangue,
“feromonizar” no suor. E não, nunca se
está pronto... Teatro é tudo isso e nenhuma conclusão. A perfeição aqui é vazia
se não há no peito a chama da ousadia, diria mesmo desnecessária.
Como teatro sem ambição? Praticar a exacerbada falsa modéstia em sua
cena é ir pra guerra e não morrer de um tiro, mas sim do seu próprio veneno.
Abespinharão, é verdade, mas isso
é TEATRO! Respeitem, aliás.
Teatro é aprendizado. Resgate.
Olhar e admirar-se! Sempre, de tudo.
Desvendar, Abrir os olhos, ouvidos, canais, vielas buracos... Abrir o mundo!
Arreganhar-se para ele. Deixar a mostra todos os cantos, manter portas abertas,
estar sempre em diálogo. Teatro é um
bonde louco na contramão que precisa passar. Que tem muito a dizer. É um
compromisso. É brincar... Mas de um jeito muito, muito sério.
Jacqueline Lemos.
Fotos do Espetáculo "Gonzaga e Nazarena" da Cia Etra Eventos que homenageia o Centenário de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião!
*** Se você chegou até aqui, gostou mesmo.Comente,eu em muito aprecio a opinião dos que me leem***
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