Confidentes

sábado, 1 de dezembro de 2012

Ir ao palco é como MORRER...




Sim, É como me sinto. Mas não, não há drama nisso. Pelo menos não nisso.

A última das três batidas. O instante que antecede o abrir das cortinas e, se não há cortinas, o passo que me levará aos olhos ávidos do público... A suspensão. Já não há nada antes ou depois. Não houve. Já não faz diferença se existiu, se deixará de ser, se morrerá. Apenas É. É e não há nada que transcenda o ser.

O imediato é verdadeiro. O fato, imutável. É o certo, pois se do futuro podemos supor e se do passado nos resta o lamento, do agora não há nada além do agora. Irremediável. Urgente. Exato.

O agora é o que nos faz humanos, menos imagináveis. O agora é como um espelho do qual não se pode esquivar. Ele é o que somos e não o que gostaríamos de ser ou fomos; é o que é, agrade ou não, e fora os devaneios humanos, é o que nos resta... O que deve bastar. É como morrer...

Penso que quando se sabe da morte, quando o corpo anuncia e espera, o que quer que se pense nesse instante... Terá sido o que de mais verdadeiro viveu o moribundo. Terá sido tudo. Por que é. É e só.  

 

Quando se está para morrer não há mentiras. Não há volta. Não há receios, a não ser o da própria morte e isso fará da vida o bem maior. Ela é tudo agora.


Como somos humanos, o tempo é o que há de mais precioso quando dele já não nos resta mais nada... Penso que neste exato momento, como é no palco o momento da  primeira fala – que para mim se assemelha a sensação de tirar proveito do último suspiro, e, por isso, deve ser Inteira, talvez por isso também a mais desajeitada, já que tão carregada de ‘sobre-humano’ anseio,  a vida seja a mais sublime certeza que se tenha... Justamente por que se, se vai morrer, Se tamanha obviedade vem à tona,  pensar no que se viveu ou no que se poderia viver já não faz diferença. Já não é. Já não resolve nada. Como, aliás, nunca tivera resolvido até então.


 Penso que nesse momento...  Penso que é esse o momento! O fatídico pouco tempo em que vamos então nos dar conta de que, afinal, nunca tínhamos tempo para perceber estas coisas e no mais, se, se vai morrer o que temos? Se não a vida?... Como fica a lista de prioridades nessa hora?


No fim, quem há de bater é a vida que não havia sido até um segundo que antecedeu essa descoberta.  A vida é o que se espelha no agora.  É ela então, o que sempre fora, o que nós mesmos não fomos já que sempre nos havíamos posto longe de onde realmente estávamos – do presente. Este é o momento efêmero em que tudo se consagra...


Se no instante em que o corpo finda,  ele também se estende, transcende, compreende a própria existência então... Ele renasce!  E segurar-se a este fio de vida com tudo que tem é finalmente ter tudo, agora!


O corpo se ouriça, estremece e, pasmem, já não há empecilhos que impeçam quem vai morrer  de perceber isso, já não faz diferença se os outros reparam, Já não difere, quando se está ali, se vão ou não aplaudir, o que importa é estar ali e  se isso vai ou não ser lembrado... Importa apenas que quem vai morrer ou dar vida a outrem não terá esquecido! Sequer terá tempo para isso e por isso e só por isso, seu tempo será, quem sabe pela primeira vez o mais utilmente aproveitado.


 No fim quem vai morrer vai morrer... mas antes disso está vivo. O peito bate. A respiração fala. Uma sintonia toca... o agora tem a chance de  gritar sua alforriada liberdade! O pulmão se alivia... é chegada a hora da última cena.


  A vida é isso, então? Ela é. Eu sou. Eu posso sentir. Posso ser o agora, Enfim! Eu posso e ninguém poderá me arrancar esse ultimo suspiro que é como... O primeiro.  é meu. É pleno. É belo. É vivo.


A cortina fecha, quando há cortina e Eu estou aqui e poderia morrer neste INSTANTE! É só o que sinto. Isso me basta como qualquer outra coisa jamais bastaria, já não sou humana, já não sinto medo. Já não há público, mas um espelho imenso e no momento em que a minha alma se reconhece nele. Há eis  o meu momento.


Eu poderia morrer nesse instante, simplesmente por que foi nele que a vida me tomou por completo. É quando morro que renasço, Enfim! É preciso morrer para eu no palco se possa falar por outro. É preciso permanecer vivo para que as coisas não percam o rumo. É preciso ser e não ser. É do que eu preciso.


E por fim, é quando desço do palco e só quando desço do palco, que compreendo o porquê de ter vivido até ali é quando sei e sinto que tudo mais que necessito é apenas voltar para ali amanhã.
Jacqueline Lemos.




Fotos do Espetáculo "L'attesa dei Pagliacci" da Cia SP2, direção de Pablo Fabriccio.

"...O que me encanta nesse espetáculo, diria mesmo o que me conquistou no L'ATESSA e penso que a todos que fazem parte, é essa magia escondida em sua linguagem... a mascara da alegria elegida por ele para tratar das dores dos seres... reluzindo na atriz que sou a criança que fui. É como se fosse leve esse peso desalmado... é como se forem flores e são fardos, podia ser a vida e é palco, esse nosso picadeiro grande... sim por que ATÉ SOFRER TEM SEU CHARME".
 
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