Fruto podre
Quero afogar-me. Quero inundar-me ao ponto
que ar nenhum chegar a mim.
E tomada por águas profundas, quero ser
onda... Quebrantar na ribeirinha profusa,
Desenhar arabescos na terra para então
tornar a sê-la. Nutri-la em imperfeição.
Quero plantar-me. Fincar raiz na solidão. E
que o fruto nasça podre;
O proibido fruto do velho Édem. Ser desse
devastado jardim o sol e a serpente.
Como o Sol queimar. Consumir as folhas
secas
Onde por qualquer ironia fora escrita a
minha história.
E restando só dela a fumaça, confundir-me
ao vento e também sê-lo,
Invisível, soberano... Quero evaporar!
Ser para essa gente como o ar que ignoram
e mais que tudo necessitam
Ventar pra longe desses seres que nunca
hão de entender dos labirintos de um coração,
E então perdida quero lançar-me. Vagar e
vagar e vagar
Como brisa, que finalmente condensada há de
despencar molhando o mesmo chão
Quebrantando o mesmo fogo
Tornando a ser o mesmo mar
Quero afogar-me. Lavar esta alma imunda. Lavar-me;
Submergir para nunca mais.
Jacqueline Lemos
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